O debate sobre tecnologias emergentes, como IA, nuvem e automação, permeia todos os setores. Neste artigo, abordaremos seus potenciais impactos sobre o setor de Energia e Utilidades Públicas. Antes, porém, é importante fazer uma contextualização: esse segmento está passando por uma transformação significativa devido ao aumento do custo de capital em meio à urgência em viabilizar a transição para uma economia de baixo carbono.
A Agência Internacional de Energia (IEA) prevê um aumento significativo na capacidade de energia renovável nos próximos cinco anos, maior do que o total instalado nos últimos 100 anos. Esse cenário traz desafios, tais como a geração intermitente e a instabilidade dos sistemas.
A transformação digital, especialmente com tecnologias emergentes, como a IA, é vista como crucial para enfrentar essas complexidades: 64% dos CEOs de empresas de Energia que participaram da pesquisa KPMG CEO Outlook 2023 mostraram-se dispostos a priorizar investimentos em IA generativa.
Apesar do potencial, o progresso é lento devido à falta de um entendimento mais profundo sobre o potencial das novas tecnologias e de outras lacunas, que incluem a carência por talentos adequados. Muitas concessionárias acumulam dados sem aproveitá-los eficazmente, por exemplo.
Apesar disso, 57% dos CEOs acreditam que a Inteligencia Artificial e Machine Learning são essenciais para metas de curto prazo, com outras tecnologias importantes incluindo computação de borda, robótica e automação.
Como essas tecnologias podem atuar na prática?
Não faltam cases de aplicações práticas das tecnologias emergentes em empresas do setor. Já é possível, por exemplo, utilizar IA e automação para melhorar operações e processos. Além disso, há organizações que já se valem de IA para apoiar a tomada de decisões de investimento, agilizando e aprofundando suas análises de opções e o planejamento de cenários, o que resulta em economia de dinheiro e melhoria do planejamento regulatório e de ativos.
Outras aplicações incluem o uso da IA generativa para automatizar a análise de documentos complexos, fazer revisão automatizada de esquemas de conexão à rede e otimizar o uso do tempo e a prática de deslocamento dos profissionais de campo – por exemplo, engenheiros –, por meio da integração de previsões meteorológicas e planos de manutenção.
Mitigar riscos e escalar IA de forma responsável
Para mitigar riscos e escalar a IA de forma responsável, as concessionárias de utilidades públicas devem adotar uma abordagem incremental, começando com pequenas ações, porém, pensando de maneira ambiciosa.
Neste sentido, é essencial avaliar as provas de conceito bem-sucedidas e escalá-las, com apoio do conselho administrativo. Modernizar as arquiteturas tecnológicas para garantir dados confiáveis e acessíveis em tempo real é crucial, integrando conjuntos de dados fragmentados por meio de arquiteturas modulares e escaláveis.
A melhoria da governança de dados e a conscientização sobre a importância da precisão dos dados em toda a organização também são medidas imprescindíveis.
Forte regulamentação caracteriza o setor
O setor de Utilidades Públicas é fortemente regulamentado, por isso é natural que, entre as concessionárias, prevaleça uma cultura de cautela. Assim, muitas empresas assumem uma postura relutante diante das tecnologias pioneiras, sobretudo pela dificuldade de justificar gastos em digitalização e pela escassez de talentos qualificados.
No entanto, a melhoria do letramento em IA pode ajudar a superar essas barreiras, reduzindo o medo e a relutância dos profissionais. Além disso, a escolha do tipo certo de IA é crucial, com a IA generativa sendo ideal para grandes volumes de texto; já outros sistemas de IA podem ser mais eficazes para processar dados numéricos estruturados – por exemplo, no planejamento de cronogramas de trabalho.
Etapas estratégicas para embasar decisões
Nesse segmento, adotar IA e automação é crucial para eficiência operacional e competitividade. As empresas devem decidir entre “comprar” ou “construir” tecnologias, avaliando as aplicações pretendidas. Soluções comerciais podem otimizar operações não essenciais, enquanto áreas essenciais com dados proprietários podem exigir modelos internos para maior controle e obtenção de insights.
As áreas de Tecnologia da Informação (TI) devem facilitar decisões rápidas sobre “comprar ou construir” e garantir a capacidade necessária para gerenciar os resultados. Priorizar projetos com alto potencial de valor, escolher tecnologias flexíveis e criar um centro de inovação são passos cruciais. Alianças estratégicas com fornecedores de tecnologia digital também são recomendadas.
Líder ou seguidor de tendências?
A digitalização é inevitável, e as empresas precisam decidir se serão líderes ou seguidoras. Ser seguidor pode significar ser superado pela concorrência, enquanto liderar exige esforços para integrar projetos em toda a organização, envolvendo estratégias para geração de valor, garantia de financiamento e envolvimento com conselhos e reguladores.
Líderes necessitam de uma base sólida de tecnologia corporativa e dados, além de uma cultura organizacional aberta à mudança. Gerenciar riscos de segurança física e de dados e navegar por um cenário regulatório em evolução, especialmente em relação à IA, são desafios a serem enfrentados para equilibrar riscos e recompensas.
Em resumo, o setor de Energia e Utilidades Públicas, a exemplo de outras indústrias, precisa abraçar a transformação digital para se preparar para o futuro. Mas a automação e o uso de inteligência digital não constituem um objetivo por si só: ambos fazem parte de uma jornada contínua, que deve ser planejada com visão estratégica, foco na geração de valor e alinhamento com os objetivos no negócio.