O setor de telecomunicações está a passar por uma transformação radical, impulsionada por desafios e oportunidades. Num mundo onde a conetividade já é considerada uma necessidade básica, as operadoras tradicionais enfrentam um grande desafio: manter o status quo ou abraçar a transformação? A única certeza é que o que manteve o setor no caminho dos diversos sucessos dos últimos 25 anos – 2G, 3G, 5G, redes fixas de nova geração, etc. – não será suficiente para garantir a sobrevivência dos próximos cinco anos.
O Desafio das Telecomunicações Tradicionais:
As receitas de serviços de telecomunicações no lado de negócios para consumidores (B2C) estagnaram, crescimento apenas 1,6% em 2022, em resultado da comoditização das ofertas, das margens reduzidas e do aumento da concorrência, enquanto o segmento de negócios para empresas (B2B) oferece novas oportunidades, crescimento de 5,6% em 2022, à medida que as organizações se digitalizam. Deste modo, a expansão para além dos serviços tradicionais tornou-se imperativa.
O Caminho de Telco para Techco:
A transição de empresa de telecomunicações (“Telco”) para empresa tecnológica (“Techco”) não é apenas uma escolha estratégica, mas um imperativo para o futuro. Os líderes do setor estão a perceber que a inovação é a chave para o crescimento, dois terços dos líderes e responsáveis pela transformação digital nas operadoras estão focados em priorizar a inovação, uma clara vantagem em relação aos 46% daqueles que não lideram esta transformação. Este caminho requer uma abordagem conetada e estratégica e, a priorizar a integração de tecnologias emergentes, uma adaptação às mudanças do mercado e uma antecipação das necessidades futuras do consumidor, pois são fundamentais para esta mudança.
Desafios e Oportunidades:
Os desafios incluem o aumento dos custos, legados tecnológicos e modelos de negócios rígidos. No entanto, as oportunidades são significativas. Ao superar as barreiras de infraestrutura e da tecnologia, as operadoras podem diversificar os seus serviços. A mudança para modelos "Techco" envolve a criação de valor para os clientes, arquiteturas cloud modulares e híbridas, desenvolvimento contínuo de serviços digitais e automação avançada.
Consideramos que existem três arquétipos fundamentais: Service Techcos, Network Techcos e Dominant Techcos. As Service Techcos focam-se na entrega de soluções inovadoras aos clientes, enquanto as Network Techcos priorizam redes baseadas em cloud e plataformas de comercialização de APIs. As Dominant Techcos combinam ambas as abordagens, liderando a inovação e definindo tendências de mercado.
Na transição para o modelo "techco" é inevitável para as operadoras que procuram prosperar, a evolução para um modelo específico que irá considerar características dos três arquétipos estabelecendo a visão e posicionamento estratégico da organização para o futuro além da conetividade. Ao adotar inovações, poderão superar o legado dos sistemas tecnológicos de suporte ao negócio e abraçar a transformação digital. Assim poderão não apenas enfrentar os desafios, mas também liderar a próxima era de serviços conetados e de experiências do consumidor.
Não haverá grandes dúvidas que a competição para a transformação será intensa. Mas também não há dúvidas que parte relevante da solução será o modelo de colaboração, partilha e abertura dos diferentes players, os recentes anúncios de parceria entre operadores que até há bem pouco tempo eram ferozes adversários são evidência disso mesmo.
Nem todas as empresas poderão estar preparadas e ter disponível o capital, os recursos internos ou o reconhecimento de marca que as gigantes do setor tecnológico têm atualmente – os hyperscalers. No entanto, ainda há muito espaço para as empresas de telecomunicações competirem em segmentos especializados e geradores de valor, tanto através da evolução orgânica como de oportunidades de consolidação.
É assim crucial que as empresas de telecomunicações não só se adaptem ao futuro, como também sejam um agente da mudança no setor tecnológico. A transição de Telco para Techco será o catalisador para uma era emocionante de serviços conetados e experiências do consumidor inovadoras.
Artigo de Diogo Sousa, Partner de Advisory, a 1 de março de 2024 no ECO.