Em sua segunda edição, a Pesquisa Direitos Humanos nos Negócios – Impactos e Desafios, produzida pela KPMG, analisa a maturidade das empresas na incorporação de diretrizes de direitos humanos.
Realizada de setembro a novembro de 2024, a pesquisa envolveu mais de 120 profissionais de diferentes setores econômicos em cinco países latino-americanos. O Brasil teve maior representatividade (65% dos participantes), seguido por Argentina (15%), Venezuela (15%), Peru (4%) e Uruguai (1%).
Os dados brasileiros mostram que 95% das empresas estão expostas a riscos relacionados aos direitos humanos, sendo os mais críticos associados a terceiros (88%), como fornecedores e parceiros. Além disso, 52% dos respondentes identificam riscos internos, abordando desafios como condições de trabalho, diversidade e saúde dos funcionários.
A análise aponta que 85% das empresas mantêm compromissos formais com direitos humanos, seja por meio de políticas específicas (53%) ou menções em códigos de conduta e ética (32%). Os temas mais abordados são assédio (74%), discriminação (70%) e segurança no trabalho (68%).
Também é positivo que 76% das empresas possuam canais de denúncia. Contudo, desafios persistem. Questões como direitos indígenas (24%) e impactos sobre comunidades (39%) ainda são pouco exploradas.
A avaliação de riscos pode melhorar: hoje, 37% das empresas realizam análise formal de riscos em direitos humanos. Entre grandes empresas, ou seja, aquelas com mais de 3.000 funcionários, esse número sobe para 61%; entretanto, 30% não preveem revisões periódicas e 25% desconhecem esse processo.
Ações preventivas são adotadas por algumas empresas, mas carecem de abrangência. O código de conduta para fornecedores está presente em 69% das organizações; no entanto, apenas 14% promovem treinamentos para engajá-los.
A destinação de recursos também apresenta desafios: 41% das empresas possuem orçamento específico para ações de direitos humanos, mas 34% não têm alocação definida e 25% desconhecem a existência de verba dedicada. Metas claras e incentivos estruturados são fundamentais para consolidar avanços nessa área.
O monitoramento das práticas de direitos humanos é um ponto crítico: apesar de 49% das empresas monitorarem seus fornecedores, 35% não adotam qualquer estratégia nesse sentido e 16% dos respondentes sequer sabem da existência desse processo.
A transparência na comunicação também precisa ser aprimorada. É positivo que 46% das empresas divulguem informações sobre direitos humanos em seus relatórios de sustentabilidade. Porém, 30% não publicam qualquer relatório e 19% divulgam relatórios que não contemplam o tema, evidenciando lacunas na prestação de contas.
Os canais de denúncia são amplamente adotados (93% das empresas disponibilizam meios para reportar violações), mas 19% são exclusivamente internos, restringindo o acesso de terceiros, comunidades e clientes. Além disso, 21% das empresas não possuem procedimentos estruturados para resposta e remediação de denúncias.
Em resumo, o levantamento demonstra que o Brasil tem bons indicadores na formalização de políticas de direitos humanos, mas existem desafios significativos que precisam ser enfrentados, com melhorias em monitoramento, governança e transparência.
O estudo indica que as empresas precisam ampliar a integração desse tema em suas estratégias, estabelecendo metas claras, garantindo recursos adequados e fortalecendo mecanismos de fiscalização e prestação de contas.
A segunda edição da pesquisa no Brasil e a edição inédita para América do Sul enfatizam a necessidade de um olhar regional para a pauta dos direitos humanos nos negócios. A responsabilidade corporativa nesse tema é uma exigência crescente e as empresas devem estar preparadas para suprir essa demanda.