Por Felipe Salgado, sócio-diretor líder de Descarbonização da KPMG no Brasil.
Após intensas negociações, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP29) terminou com opiniões divergentes e pouco consenso. Considerada um fracasso por muitos, minha experiência como um participante permite enxergar o evento por outra perspectiva. Firmando a presença da KPMG na COP29, o que observamos foi um debate conflituoso do ponto de vista das lideranças globais, mas produtivo no que concerne às ações de atores não estatais, os quais mostraram sua capacidade de focar na solução de problemas.
Realizada em Baku, no Azerbaijão, a COP29 foi marcada pela ausência de figuras notáveis, líderes de grandes nações. Por outro lado, a presença de agentes não estatais foi capaz de apresentar um caminho focado no futuro, transformando a Conferência em um terreno fértil para a troca de ideias, experiências e projetos inovadores.
Foram muitos dias de negociações, por isso acredito na importância de fazer um breve balanço dos principais acontecimentos. Entre conquistas e desafios, devemos nos preparar para aprender com o que vivenciamos e aplicar essa experiência na COP30, que o Brasil será responsável por sediar em novembro de 2025, no Pará.
A meta de limitar o aquecimento global e reverter os danos das mudanças climáticas continua distante, mas acreditamos que, com planos e mecanismos sólidos, podemos enfrentar esse desafio e pavimentar o caminho para um futuro mais verde.
As conquistas da COP29
A Conferência começou com objetivos claros a serem alcançados, mas sem um caminho traçado para o sucesso. Utilizamos toda a nossa expertise para trazer à tona debates relevantes para delinear planos nas áreas que contribuem para as metas de desenvolvimento sustentável.
Promovemos amplos debates de temas essenciais, tais como a aceleração da transição de energia, a descarbonização da economia global, a importância da inclusão para um futuro mais verde, os perigos do greenwashing, a necessidade de mais transparência nas divulgações e o lançamento do programa “Partnership for Action on Climate Transition”.
Embora os resultados não tenham agradado a todos, o propósito central da Conferência foi cumprido. A COP29 tinha urgência em definir valores para o Novo Objetivo Coletivo Quantificado de Financiamento (NCQG), substituindo o compromisso atual de US$ 100 bilhões/ano, já que os valores definidos anteriormente deixam de ser válidos em 2025.
O novo valor acordado foi inferior ao solicitado pelos países emergentes, mas ainda é um aumento em comparação ao compromisso anterior, sendo definido que os países desenvolvidos dedicarão US$ 300 bilhões anuais para o financiamento climático.
Após anos de negociações, foram igualmente aprovadas as regras gerais para o mercado de carbono, estabelecendo cotas de emissão de gases do efeito estufa que podem ser compradas e vendidas por empresas e governos, com o intuito de viabilizar um mercado voluntário governado pela ONU que facilite a negociação de créditos de carbono, tema que foi definido como prioritário pela presidência da Conferência.
A vez do Brasil, um desafio para o futuro
Os valores abaixo do previsto a serem dedicados para o financiamento climático criam uma enorme expectativa para a COP30.
O Brasil conseguiu provar que está à altura do desafio de sediar um evento dessa importância e marcou presença na COP29 com uma das três maiores delegações da Conferência. O País também aproveitou para incentivar os investimentos na Plataforma Brasil de Investimentos Climáticos e para a Transformação Ecológica (BIP).
Independentemente do que o futuro guarda, assim como marcamos presença no Azerbaijão, estamos otimistas de que, em 2025, ajudaremos a trilhar o caminho para um futuro mais sustentável. O desafio de enfrentar as mudanças climáticas é grande, mas acreditamos que o desenvolvimento ecológico pode ser alcançado!