Um país sem infraestrutura adequada simplesmente não tem como crescer. A insuficiência logística impede o fluxo da produção, o déficit energético compromete o desempenho de diversos setores e a falta de equipamentos públicos compromete a qualidade de vida das pessoas. Em contrapartida, uma infraestrutura eficaz impulsiona o crescimento, favorece a competitividade global e facilita o acesso a serviços essenciais como saúde, educação e saneamento, promovendo inclusão social e qualidade de vida.

Mas de que maneiras as empresas que atuam nesse segmento percebem essas oportunidades? E quais desafios elas enfrentam? Em busca dessas respostas, a KPMG aplicou uma pesquisa interativa a um grupo de 60 executivos, dos quais 82% ocupam cargos c-level, durante um evento sobre o setor de infraestrutura realizado em São Paulo, na segunda quinzena de junho de 2024.

A pesquisa “Infraestrutura: perspectivas e oportunidades de investimentos” trouxe insights valiosos sobre o panorama atual e futuro do setor brasileiro de Infraestrutura. Entre outros temas, a análise permitiu detectar tendências, como a necessidade de ampliar investimentos no modal ferroviário, oportunidades de negócios estimuladas pela transição energética e a crescente relevância da agenda ESG.

Um dos pontos mais ressaltados pelos participantes foi a necessidade de investimentos em ferrovias, indicada por 49% dos respondentes. As rodovias e as obras de infraestrutura social – tais como hospitais e escolas – também foram destacadas, cada uma por 35% dos respondentes, evidenciando um consenso sobre a urgência de modernização e expansão de transporte e serviços sociais.

Projetos greenfield

Os projetos greenfield foram destacados por 38% dos participantes. Mas o que exatamente são esses projetos e por que despertam entusiasmo? Projetos greenfield são iniciativas que envolvem a construção de novas instalações e infraestruturas a partir do zero, em terrenos não previamente desenvolvidos.

A principal vantagem dos projetos greenfield é a flexibilidade. Como são desenvolvidos em locais sem infraestrutura prévia, permitem um planejamento mais livre, incorporando soluções inovadoras desde o início. Isso possibilita a criação de instalações mais eficientes e adaptadas às necessidades atuais, sem as limitações impostas por estruturas já existentes.

Além disso, os projetos greenfield oferecem a oportunidade de integrar práticas sustentáveis desde a concepção, facilitando o alinhamento com a importância crescente das questões ESG no setor. A construção de novas infraestruturas verdes, por exemplo, pode ser projetada para minimizar os impactos ambientais, otimizar o uso de recursos naturais e promover a sustentabilidade.

No contexto brasileiro, as novas concessões de projetos greenfield são vistas como uma forma eficaz de estimular o crescimento econômico e a modernização da infraestrutura. Esses projetos podem atrair investimentos estrangeiros, gerar empregos e fomentar o desenvolvimento regional. 

Desafios: questões regulatórias se destacam

A pesquisa também apontou os desafios que mais preocupam os executivos do setor. Neste sentido, a segurança regulatória foi citada por 42%, e as questões regulatórias, por 54%. Ambas são preocupações centrais que refletem a instabilidade e a imprevisibilidade das normas, o que pode inibir investimentos e dificultar a operação dos projetos.

Para enfrentar esses desafios, as empresas devem buscar o aprimoramento da previsibilidade regulatória, por meio do diálogo contínuo entre entidades do setor, governos e reguladores. Contar com a assistência de assessorias especializadas também pode ser produtivo.

Também sobressai o desalinhamento entre previsão e desempenho: a discrepância entre a performance estimada e o desempenho real dos projetos foi mencionada por 45% dos executivos. Para enfrentar esse desafio, é crucial investir no desenvolvimento e na adoção de metodologias de previsão mais robustas, baseadas em dados históricos precisos e análises de risco abrangentes.

A sustentabilidade ganha relevância

A crescente importância da agenda ESG no setor de Infraestrutura foi um dos temas centrais do evento. A integração das práticas ESG às estratégias empresariais ainda enfrenta dificuldades significativas, com 55% dos respondentes indicando desafios nesta área.

No entanto, a implementação de uma agenda ESG oferece oportunidades notáveis, como a redução de riscos financeiros, regulatórios e de reputação, mencionada por 56% dos executivos. A tendência para práticas de governança corporativa mais rigorosas e eficientes, destacada por 35% dos participantes, e a inovação tecnológica para gestão de riscos climáticos, juntamente com investimentos em infraestrutura verde, são vistas como caminhos para um futuro mais sustentável e resiliente.

A transição energética é outro ponto de destaque, com 36% dos respondentes vendo oportunidades significativas em áreas como armazenamento de energia, redes inteligentes e mobilidade elétrica. A crescente demanda por investimentos em fontes renováveis de energia reforça a necessidade de adaptação e inovação no setor, alinhando-se às tendências globais de sustentabilidade.

Em resumo, a pesquisa evidencia um setor de Infraestrutura pronto para atuar na retomada do crescimento sustentável, aberto para as oportunidades e, ao mesmo tempo, consciente dos desafios. Com investimentos estratégicos, aprimoramento das práticas regulatórias e um foco crescente em sustentabilidade, o Brasil poderá construir uma infraestrutura que impulsione o desenvolvimento econômico e que promova a inclusão social e a preservação ambiental. É uma jornada desafiadora; no entanto, ela nos conduz para um futuro mais próspero, com a infraestrutura desempenhando papel central na melhoria da qualidade de vida e na competitividade do País

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