Quero falar com vocês sobre a importância da Reforma Tributária na jornada de transformação das empresas. Mudar é movimento, é sair do status quo, é virar a página, é transformar, é adaptar-se. A mudança pode ser considerada uma tendência ao longo do tempo e, inevitavelmente, vem acompanhada de um processo de adaptação.
Planejada ou não, desejada ou não, sob controle ou não, complexa ou não, pacífica ou não, toda e qualquer mudança nos atinge no aspecto mais humano possível: como reagirei a ela? Como a minha organização reagirá a ela?
As constantes alterações legislativas, a necessidade de adaptação de parâmetros sistêmicos, o altíssimo nível de digitalização do Fisco e suas obrigações, bem como a elevada qualidade e automação das fiscalizações, são alguns dos desafios enfrentados no cenário tributário.
Todos esses obstáculos foram superados, um a um, em diferentes momentos e contextos nos últimos anos, reforçando nossa capacidade de adaptação e assimilação de mudanças.
No entanto, a Reforma Tributária traz à tona transformações estruturais que acionam uma série de gatilhos igualmente estruturais na forma como reagiremos a tudo isso. Sair do piloto automático e deixar de encarar o tema como “apenas mais uma mudança” é essencial. Precisamos ampliar nosso campo de visão: não passaremos por esse processo sozinhos.
Alguns desafios podem parecer semelhantes aos que já enfrentamos, mas não em um contexto tão amplo, complexo e estrutural quanto o que se apresenta agora. Precisaremos de aliados, de promotores do tema, de especialistas e, mais do que nunca, de uma abordagem multidisciplinar que vá além das formações contábil e jurídica.
Com base em dados e referências de outras áreas do conhecimento, bem como de outras regiões e países, será necessário ir além da oferta de capacitação e treinamentos.
Teremos necessidade de uma comunicação clara e acertada com as mais diversas áreas e de um engajamento genuíno, que transcenda a simples adesão formal ao processo.
Gestão de mudanças não é um tema novo no contexto organizacional. Seja sob a perspectiva do aprendizado contínuo ou da implementação de sistemas, é provável que você, leitor, já tenha participado de algum projeto voltado à mitigação dos impactos de uma mudança empresarial.
No caso da Reforma Tributária sobre o Consumo, um mapeamento adequado dos stakeholders, dentro e fora das organizações, é essencial. O desenho de personas e a identificação de perfis, considerando motivações, preocupações e crenças, são ferramentas que podem ser utilizadas para um diagnóstico inicial, permitindo direcionar ações que minimizem resistências e riscos ao longo do processo.
A definição de uma estratégia de transformação alinhada aos objetivos e compromissos de cada stakeholder é imprescindível. Precisamos tornar evidente a percepção de valor e sua conexão com a cadeia de valor.
Também temos que revisar indicadores de desempenho e, mais do que isso, permitir que as pessoas façam parte e contribuam ativamente para a construção dos novos modelos necessários para viabilizar essa transformação.
Agora é o momento de olhar com atenção para temas que, até então, pareciam fora do nosso escopo. Agora, é hora de sermos curiosos, de explorar novos conhecimentos, de estudar, de recomeçar, de nos reinventar. A mudança nos permite ser diferentes e melhores.
Com tecnologia e dados, antecipar mudanças torna-se cada vez mais viável e, mais do que um diferencial estratégico, pode se traduzir em vantagem competitiva. Por isso, a abordagem de foresight – antecipação estratégica – vem ganhando espaço no ambiente corporativo.
O grande benefício está em capacitar nossas organizações e pessoas a reagirem intencionalmente, com clareza e antecedência, ao debate sobre potenciais cenários.
A Reforma Tributária sobre o consumo já foi uma tendência, mas agora é realidade. Como você a monitorou? Como pretende reagir a ela? Vamos construir um caminho estruturado, com ferramentas e metodologias que garantam um processo sustentável – para que as mudanças aconteçam, as adaptações fluam, os embates contribuam e as colaborações se concretizem.
É fundamental que as pessoas compreendam seus papéis e suas responsabilidades e sejamos não apenas espectadores, mas protagonistas dessa orquestra que precisará se formar. Apenas assim a jornada de transformação impulsionada pela Reforma Tributária ocorrerá de forma benéfica e construtiva para as empresas e para a sociedade.
Por Paola Dôliveira, sócia de Tax Transformation da KPMG no Brasil.