Como anda a maturidade do Brasil na adoção da inteligência artificial (IA) e da inteligência artificial generativa (Gen AI) nas áreas de finanças em empresas de diferentes setores e portes? Será que nós estamos à altura dos nossos competidores globais quando o assunto é tecnologia?
O recorte brasileiro da publicação KPMG Global AI in Finance Report, produzida pela KPMG, baseado em 100 empresas de setores como seguros (10%), bens de consumo embalados (10%) e energia/utilidades públicas (9%), indica que sim.
Embora ainda tenhamos lacunas e barreiras a vencer, os dados obtidos evidenciam o crescente interesse pela tecnologia. A participação de executivos com altos cargos decisórios – 63% diretores e 11% vice-presidentes (11%) reflete a relevância estratégica da IA no ambiente corporativo.
Entre as empresas participantes, 60% faturam entre US$ 5 bilhões e US$ 25 bilhões e 59% são de capital aberto. Para identificar a maturidade das organizações na adoção de IA e Gen AI pelas áreas de finanças, A KPMG desenvolveu um framework de maturidade em IA, classificando as empresas em três níveis:
- Iniciantes: 18%
- Implementadores: 58%
- Líderes: 24%.
No Brasil, 58% das organizações estão em fase de implementação, enquanto apenas 15% atingiram o estágio de liderança. Esses dados refletem o potencial de evolução no país, com muitas empresas ainda explorando a tecnologia.
Quanto ao uso de IA e Gen AI na prática, as organizações brasileiras destacam a automatização de processos repetitivos, como cálculos fiscais e relatórios; a gestão de riscos e a prevenção de fraudes, com detecção proativa de irregularidades; e a análise financeira preditiva, apoiando decisões estratégicas baseadas em dados.
Também é interessante ressaltar que, embora a aplicação da IA na gestão tributária ainda seja limitada em âmbito global, 60% dos respondente do Brasil já consideram utilizar Gen AI nessa área.
Um fato é certo: o investimento em IA tem aumentado. Atualmente, 42% das empresas brasileiras dedicam entre 5% e 10% do orçamento de TI à tecnologia; além disso, 48% pretendem aumentar esse investimento para 11% a 15% nos próximos três anos.
Apesar disso, o retorno sobre investimento (ROI) ainda não é percebido da mesma forma por todos os respondentes: 26% relatam retornos acima do esperado e 32% consideram que suas expectativas foram atendidas; entretanto, 32% não têm uma avaliação clara quanto aos resultados.
Já entre as empresas líderes brasileiras – isto é, aquelas que estão mais maduras no processo de implementação de IA –, 67% afirmam obter ROI acima das expectativas.
Também merece destaque as diferentes tecnologias de IA adotadas pelas organizações brasileiras, com destaque para chatbots e assistentes digitais, muito adotados para suporte ao cliente, e o processamento de linguagem natural (NLP), que vem ganhando espaço em análise de texto e relatórios.
Outra solução de IA bastante mencionada pelos participantes do Brasil é a Automação de Processos Robóticos (RPA), bastante útil em tarefas repetitivas das áreas de finanças, mas ainda subutilizada devido à falta de integração com outras ferramentas avançadas.
IA e Gen AI em finanças: barreiras e recomendações
Em relação à governança e aos riscos, as empresas líderes priorizam frameworks de governança para mitigar riscos associados à IA, como segurança cibernética, privacidade e viés algorítmico. No Brasil, 34% já adotaram frameworks para orientar o uso de IA.
Além disso, 26% buscaram validações externas para controle de qualidade. Entretanto, práticas como inclusão de riscos de IA em relatórios financeiros (19%) e certificações externas (12%) estão em estágios iniciais.
Quanto às barreiras e aos desafios que as empresas do Brasil enfrentam para adotar IA, destacam-se:
- Segurança e privacidade de dados: 63%
- Falta de habilidades técnicas: 55%
- Altos custos de implementação: 39%.
- Resistência cultural, incluindo preocupações com substituição de empregos: 24%.
Superar essas barreiras exige investimentos em capacitação, modernização tecnológica e governança. de qualquer forma, a Gen AI vem ganhando espaço, com 40% das organizações globais já testando ou utilizando a tecnologia.
No Brasil, 57% planejam integrar Gen AI à gestão de tesouraria e 60% consideram aplicá-la em operações fiscais. O avanço depende de maior alinhamento, uso de recursos especializados e estratégias claras de implementação.
O estudo termina com uma série de recomendações para a implementação bem-sucedida de IA e Gen AI, que valem tanto para os respondentes globais quanto para os participantes brasileiros:
- Priorize o uso estratégico da IA: vá além de tarefas básicas e explore aplicações avançadas, como gestão de riscos e análise preditiva.
- Planeje a adoção da Gen AI: teste e refine casos de uso, garantindo segurança e precisão nos resultados.
- Expanda o foco dos CFOs: além de relatórios financeiros, explore áreas como planejamento e tributação.
- Invista em pessoas: Capacite equipes financeiras e contrate especialistas para integrar a IA de forma eficaz.
- Supere as barreiras: enfrente desafios técnicos, culturais e financeiros com estratégias robustas.
- Adote práticas de governança: assegure transparência e sustentabilidade no uso da tecnologia.
- Trabalhe com auditores externos: exija suporte na validação de controles e práticas de IA.
A publicação demonstra progressos relevantes no uso de IA e Gen AI nas empresas. Entretanto, é possível ir além, com estratégias bem definidas, governança robusta e investimentos em capacitação.