A agenda ESG avançou em um ritmo acelerado na maioria dos setores e indústrias em todo o mundo. O entendimento cada vez mais profundo do impacto positivo dos pilares ambientais, sociais e de governança sobre a produtividade e o desempenho financeiro das empresas não é mais um segredo ou uma suposição, mas uma realidade. Há apenas alguns anos, a pauta era impulsionada sob a premissa de ser “o melhor para todos e para o nosso planeta”, um slogan que, embora tenha ajudado a trazer a questão para o cenário corporativo, quase paralelamente às preocupações globais a respeito das mudanças climáticas e/ou da necessidade de ser mais equitativo no ambiente de trabalho, não foi suficiente. Contudo, a demanda social constante para incorporar esses elementos à própria estratégia das organizações como uma marca registrada de tudo que a empresa faz e decide, tornou a pauta inevitável ao ponto de ser necessária para financiar, empregar e reter novos talentos, relacionar-se com fornecedores, vender produtos e serviços, ou mesmo manter a lealdade de seus clientes. 

Essa nova realidade tem se refletido em quase todos os estudos cujos resultados têm como base as opiniões das lideranças, como é o caso da edição mais recente da pesquisa global KPMG CEO Outlook[1], e os cortes específicos preparados para cada setor; cujos relatórios refletem as perspectivas, os desafios e os riscos que executivos de grandes empresas veem para os próximos três anos. Incluindo questões relativas ao ESG. No Consumo e Varejo[2], por exemplo, que inclui o setor de supermercados, 74% das lideranças indicaram que os princípios ESG estão plenamente integrados aos seus negócios, assim como a necessidade de dominar esses critérios como parte fundamental de suas operações e estratégias com o objetivo de gerar confiança do público, melhorar a reputação da empresa e construir uma base robusta de clientes.

Com foco exclusivo em supermercados locais, a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) e a KPMG[3] detalharam, por meio de uma pesquisa com 1.250 empresas varejistas, as ações que o setor deve realizar para alcançar os objetivos classificados como prioritários nas questões ambientais, sociais e de governança (associados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS, da Organização das Nações Unidas), bem como as métricas para avaliar seus avanços. O estudo destacou, entre outras iniciativas, a gestão de resíduos, a redução das emissões poluentes e a eficiência hídrica e energética como decisões específicas para abordar as questões ambientais e mudanças climáticas; a doação de alimentos a populações vulneráveis e a atualização do sistema de vida útil dos produtos (como o “consumir antes de” ou “consumir preferencialmente até”) para refletir aspectos sociais; ou a adoção das melhores práticas em questões familiares e questões relacionadas à diversidade para responder às demandas por uma governança melhor. De modo semelhante, o estudo determinou que as métricas que devem ser utilizadas para mensurar periodicamente e precisamente o desempenho e o cumprimento de cada objetivo, entre os quais podem ser apontados o volume de resíduos e desperdícios gerados, os índices de reciclagem e a adoção do "consumir antes de”, a quantidade total de emissões poluentes, o consumo total de água e eletricidade, a existência de uma estrutura de governança, ou representação demográfica na organização, entre outros. O compromisso do setor com os fatores ESG e a sustentabilidade em suas operações é claro. Um resultado que pode ser visto não apenas no Brasil à luz deste estudo, mas, com nuances, é reproduzível na maioria dos países da região.

Como já foi destacado em outros artigos, a região é um dos principais conglomerados de empresas comprometidas com o meio ambiente, a biodiversidade e as questões sociais, especialmente nos setores-chave, como os de alimentos e atacado e varejo. No entanto, a despeito disso, as dificuldades que o setor enfrenta para alcançar os objetivos de sustentabilidade não devem ser ignoradas, sobretudo aquelas relativas à complexidade de suas cadeias de suprimento ou à falta de competências e tecnologias; que tendem a atrasar seu progresso a esse respeito e foram, nessa ordem, os três obstáculos mais importantes que os líderes do setor destacaram na pesquisa CEO Outlook 2024. Pode-se dizer que a pauta ESG é essencial para o setor de Consumo e Bens e Serviços em geral e para o setor de Supermercados em particular, pois os consumidores têm se tornado mais conscientes das questões ambientais e sociais, aumentando, por um lado, as exigências em relação às marcas que eles apoiam e, em consequência, promovendo uma integração mais natural dos critérios de sustentabilidade nesses setores. 

De modo semelhante, o setor de supermercados representa um dos segmentos mais relevantes no Consumo e Varejo, sendo uma peça essencial da estrutura produtiva regional, não somente por causa de sua alta participação no produto agregado e na geração de empregos, mas também por conta de sua capilaridade geográfica e capacidade de atingir diretamente a população. Embora sempre haja oportunidades de melhorias nas iniciativas ESG, estudos anteriores mostram que os supermercados não somente não conseguiram escapar dessa nova realidade, como também a incorporaram e conceberam como uma parte central de sua evolução. Mas, acima de tudo, colocam outros setores em evidência, que poderiam muito bem tomar essas iniciativas como exemplo para transformar suas metas de sustentabilidade em realidade.

[1] KPMG. KPMG 2024 CEO Outlook. KPMG International. 2024. 

[2] KPMG. Consumer and Retail CEO Outlook 2024 da KPMG. KPMG International. 2024.

[3] ABRAS e KPMG. Guia ESG para o setor de supermercados brasileiro3ª Edição, agosto de 2024. 


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