Em meio às contínuas tensões geopolíticas, ao rápido avanço da inteligência artificial generativa e à incerteza econômica global, os CEOs de Energia, Recursos Naturais e Químicos (ENRC) estão demonstrando altos níveis de confiança nas perspectivas de crescimento de suas empresas e do setor como um todo — e um novo foco no aprimoramento da experiência do cliente e na execução de iniciativas ESG.

Como parte do CEO Outlook de 2023, a KPMG International entrevistou 127 CEOs globais de energia e serviços públicos, petróleo e gás, energia renovável, mineração e produtos químicos, coletando seus insights e suas perspectivas sobre o cenário econômico e de negócios dos próximos três anos.

Na leitura deste texto, você saberá quais são as expectativas para o setor de Energia.

Com base na pesquisa, a confiança dos CEOs globais de ENRC em relação às perspectivas de crescimento de suas próprias empresas aumentou substancialmente no último ano, atingindo 87%, um salto de seis pontos percentuais em relação a 2022. Seu nível de confiança permanece alto em comparação ao dos CEOs globais, que relataram confiança de três anos abaixo dos 77%. Mesmo com a realocação de capital em direção a energias mais limpas e sustentáveis, os CEOs do setor acreditam que seus negócios e clientes atuais não vão desaparecer tão cedo.

Os CEOs de ENRC também relataram níveis semelhantes de confiança no setor como um todo (83%), um aumento de 2% em relação a 2022. Essa crescente confiança pode ser atribuída à recuperação econômica gradual e à importância cada vez maior desse setor no impulsionamento da transição energética global.

A confiança na economia global também supera os níveis anteriores à pandemia. Três em cada quatro CEOs de ENRC (75%) demonstram confiança geral na economia para os próximos três anos, contra 71% em 2022.

Isso é acompanhado por uma mudança significativa naquilo que os CEOs de ENRC apontam como suas prioridades operacionais para alcançar o crescimento. Para 12%, o aprimoramento da experiência do cliente é a prioridade número um — em 2022, essa era a prioridade de 0%. Avançar na digitalização e executar iniciativas de ESG são prioridades para 23% e 17% dos CEOs, respectivamente.

Apesar do otimismo, os CEOs de ENRC estão preocupados com as incertezas geopolíticas e políticas (19%), questões operacionais (17%) e preocupações regulatórias (16%), que podem representar um risco para o crescimento de suas empresas, enfatizando a necessidade de estratégias proativas para abordar essas questões.

Os CEOs reconhecem que demonstrar integridade pessoal é a chave para construir confiança enquanto enfrentam e respondem aos desafios. A maioria (72%) afirma estar disposta a desinvestir em uma parte lucrativa de seus negócios para preservar sua reputação. À medida que a geopolítica ganha destaque nas pautas dos conselhos de administração, 58% dos CEOs de ENRC dizem que tomariam uma posição pública em relação a uma questão política ou socialmente controversa, apesar das preocupações do conselho. No entanto, 76% também dizem que seguiriam publicamente a postura de suas organizações, mesmo em uma questão que conflitasse com suas convicções pessoais.

A importância de construir e manter a confiança do público não mostra sinais de ir embora. Quanto mais cedo os CEOs de ENRC e suas respectivas organizações reconhecerem isso — e entenderem que trabalhar de forma consistente para construir a confiança do público é do seu interesse, melhores eles estarão.

A inteligência artificial (IA) está transformando quase todos os campos de empreendimento humano e está incorporada em cada vez mais aspectos da vida cotidiana, dos negócios e da sociedade. À medida que as ferramentas ganham destaque, os CEOs globais de ENRC reconhecem o potencial aparentemente ilimitado da IA e estão começando a investir e a explorar maneiras de suas organizações fazerem o melhor uso da tecnologia.

Aproximadamente dois terços (64%) concordam que investir em IA generativa é a prioridade número um, com 48% dos respondentes esperando ver um retorno sobre seus investimentos em três a cinco anos. Os CEOs estão garantindo que a força de trabalho de ENRC esteja preparada para lidar com a transição tanto para a IA quanto para a energia limpa, com 52% focados em investir no aprimoramento das habilidades de seus profissionais (um aumento de 7% em relação a 2022), em vez de priorizarem os investimentos em novas tecnologias.

Esse amplo entusiasmo em implementar a IA e outras tecnologias emergentes pode ser percebido no recente estudo KPMG Global Tech Report 2023, no qual 38% dos executivos disseram que têm o apoio da liderança para tecnologias emergentes — um aumento de 28 pontos percentuais em relação a 2022. No entanto, 55% das organizações também disseram que o progresso rumo à automação foi adiado devido a preocupações em relação ao modo como os sistemas de IA tomam decisões. Da mesma forma, 60% dos CEOs de ENRC concordam que a implementação da IA generativa pode resultar em desafios éticos relacionados a questões como plágio, proteção de dados, viés e falta de transparência. À medida que o escrutínio e as regulamentações de IA se intensificam, as organizações podem se empenhar em criar políticas e práticas que lhes permitam articular e aplicar essas tecnologias com maior confiança.

Os CEOs de ENRC também lidam com o fato de que a IA ampliou os riscos à segurança cibernética. Embora a IA possa ajudar a detectar ataques cibernéticos, 82% acreditam que ela poderia oferecer novas estratégias de ataque para os adversários. Mesmo com toda a atenção dada à segurança cibernética nos últimos anos, somente 46% dos CEOs dizem estar preparados para um ataque cibernético.

Seria aconselhável que os CEOs tentassem garantir que suas organizações adotassem estruturas de IA responsáveis e robustas, com foco na proteção e na governança.

O cenário global desafiador de 2023 enfatizou as pressões que os CEOs sentem para tomar decisões sobre uma variedade de questões críticas.

Em particular, a maioria dos CEOs globais de ENRC está firme em prestar suporte às formas de trabalho anteriores à pandemia, com 73% prevendo um retorno total ao escritório em três anos — um aumento de 8% em relação a 2022. Além disso, 94% dizem que provavelmente recompensarão os funcionários que comparecerem ao escritório, oferecendo a eles mais atribuições favoráveis, aumentos e promoções.

Esse sentimento enfatiza a persistência do pensamento tradicional no setor de ENRC e se contrapõe aos debates sobre adoção de trabalho híbrido, que teve um impacto consideravelmente positivo sobre a produtividade nos últimos três anos. 

À medida que as organizações continuam a implementar seus planos de retorno ao escritório, os líderes devem adotar uma visão de longo prazo que abrace a proposta de valor do funcionário e leve em consideração as necessidades das pessoas, garantindo que elas encontrem apoio e sejam adequadamente cultivadas.

Os CEOs dizem que estão empenhados em criar um ambiente inclusivo para os funcionários, valorizando a diversidade e estimulando a sensação de pertencimento.

Embora os CEOs de ENRC estejam geralmente alinhados à importância da inclusão, da diversidade e da equidade (IDE), persiste a preocupação com a demora desse progresso. Mais da metade (60%) acredita que o progresso nos tópicos de inclusão e diversidade tem sido lento demais no mundo dos negócios, e a maioria (72%) considera que a fiscalização do desempenho em diversidade das organizações continuará a aumentar pelos próximos três anos.

Os CEOs globais de ENRC reconhecem cada vez mais os fatores ESG como uma parte indispensável de sua estratégia corporativa, que ajuda a garantir que seus negócios sejam resilientes e possam proporcionar crescimento a longo prazo. Com o uso de energia representando quase três quartos das emissões globais,[1][SL1] os CEOs estão sensíveis a tomar medidas significativas em relação a todos os aspectos ESG, enquanto equilibram a segurança energética e a acessibilidade.

De acordo com 78% dos CEOs, os fatores ESG foram completamente incorporados às suas empresas para gerar valor. De forma significativa, em um setor que nem sempre deu ênfase ao cliente, 22% acreditam que os fatores ESG terão maior impacto sobre os relacionamentos com os clientes nos próximos três anos. Eles estão priorizando investimentos em ESG para estimular esses relacionamentos, uma vez que, se não conseguirem atender às expectativas em ESG, poderão enfrentar custos de financiamento mais altos e desvantagens competitivas. Mais de um terço (37%) estão priorizando as despesas ESG em desafios ambientais, como alcançar a neutralidade de carbono.

A curto prazo, 30% reconhecem que atingir a neutralidade de carbono está sendo ainda mais difícil devido à complexidade da descarbonização das cadeias de suprimento — em razão das  incertezas geopolíticas, do alto custo das alternativas e do aumento das regulamentações. A longo prazo, as emissões do Escopo 3 ao longo da cadeia de valor serão desafiadoras para os CEOs de Energia e suas respectivas organizações.

Os CEOs de ENRC que se anteciparem à curva de descarbonização acabarão por se beneficiar dessa proatividade. As organizações estão sendo pressionadas para que descarbonizem mais rapidamente, e essa pressão tende a crescer cada vez mais. Em vez de adiarem a ação, o melhor a fazer é preparar-se o quanto antes – e preparar a empresa – para ingressar no futuro mais cedo e reforçar a resiliência dos negócios.


Explorando oportunidades de crescimento:

Tecnologia

  • Adote a IA generativa de maneira ética, que faça mais sentido para o seu negócio e mantenha as necessidades de seus funcionários e clientes em primeiro plano.

  • Mantenha-se atualizado a respeito das estratégias de ataques cibernéticos, para que você e seus funcionários não exponham a empresa a riscos.

  • Crie um ambiente seguro para que sua equipe experimente ideias e estratégias inovadoras.


Talentos

  • Adote uma visão de longo prazo em relação ao desejo dos funcionários por modelos de trabalho híbrido ou remoto, para garantir que os talentos sejam cultivados e respaldados.

  • Determine o tom a partir do topo. A liderança sênior deve tornar a IDE uma prioridade estabelecida, definir metas reais, financiar iniciativas e nomear gestores para a liderança de programas, com responsabilidades bem definidas.


ESG

  • Posicione os fatores ESG como um impulsionador da geração de valor, não como um risco a ser gerenciado. Novos caminhos se apresentam quando os fatores ESG são considerados na estratégia de crescimento.

  • Esteja atento às mudanças nas regulamentações de ESG, para ajudar a manter os relacionamentos com os clientes e a reputação da sua empresa.

  • Direcione os investimentos em ESG para as áreas alinhadas com os seus valores e com os valores da empresa.


Metodologia

Sobre o KPMG 2023 CEO Outlook

A nona edição do KPMG CEO Outlook, realizada com 1.325 CEOs entre 15 de agosto e 15 de setembro de 2023, proporciona insights únicos sobre o mindset, as estratégias e as táticas de planejamento dos CEOs.

Todos os respondentes têm receitas anuais acima de US$ 500 milhões e um terço das empresas pesquisadas tem mais de US$ 10 bilhões em receita anual. A pesquisa incluiu líderes de 11 mercados (Austrália, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Itália, Japão, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos) e 11 setores industriais chave (gestão de ativos, automotivo, bancário, consumidor e varejo, energia, infraestrutura, seguros, life sciences, manufatura, tecnologia e telecomunicações).

Observação: alguns números podem não somar 100% devido ao arredondamento.