Qual o futuro do green shipping em Portugal? Quais é que são os desafios e as oportunidades no contexto da transição verde? Qual é a sua regulação e as oportunidades de financiamento sustentável?

O transporte marítimo representa cerca de 3% a 4% das emissões totais de CO2 da EU (124 milhões de toneladas de CO2 em 2021) e as entidades reguladoras e os investidores exercem uma pressão crescente sobre o setor para que este desenvolva planos de transição e de transformação.

A Comissão Europeia estima que globalmente sejam necessários investimentos anuais adicionais entre 175 a 290 biliões de euros para descarbonizar a economia da União Europeia (UE) e alcançar as metas ambientais definidas na Net zero e Cop28 e atingir o objetivo de neutralidade carbónica até 2050. Esta considera que as obrigações e empréstimos verdes ou veiculados a indicadores de sustentabilidade desempenham um papel importante na canalização do financiamento para os ativos necessários para a transição para o Net Zero.

João Torres

Director de ESG
KPMG em Portugal

A implementação de um plano de transição para a descarbonização e transformação do setor do transporte marítimo é hoje um imperativo em função das pressões regulatórias, dos investidores e dos financiadores. As emissões de CO2 dos navios já representam, desde janeiro de 2024, uma obrigação de compra de licenças de emissão para as companhias de navegação como mecanismo obrigatório de “compensação” das emissões e, portanto, um sobrecusto que irá afetar necessariamente o custo dos produtos transportados indexado ao nível de emissões verificado. A transição representa desafios, exigindo a colaboração entre as três cadeias de valor, nomeadamente da construção naval, das operações marítimas e dos combustíveis marítimos, criando assim novas oportunidades. São necessários incentivos políticos e financiamento a nível regional e global para acelerar a eficiência energética da propulsão e a adoção de combustíveis alternativos com menor teor de carbono para o transporte marítimo. Os instrumentos de financiamento sustentável terão um papel relevante no contexto de um cenário de investimento superior a mil milhões de euros.

João Torres
Director de ESG

A incerteza que faz do setor marítimo um setor hard-to-abate

Cadeia de valor

Cadeia de valor.

O consumo de combustível durante o funcionamento dos navios é a parte da cadeia de valor com maior intensidade de emissões.

Elevate Compliance Standards

Ambiente político e regulamentar

A regulamentação e as políticas de descarbonização em todo o mundo têm um impacto direto no funcionamento dos navios.

Experiência digital do cliente simplificada

Tecnologia

A mudança para tecnologias que incluam combustíveis alternativos com baixo teor de carbono, a eficiência da propulsão e a eficiência energética podem ter um grande impacto na redução das emissões de carbono a longo prazo. No entanto, estas tecnologias poderão não ser suficientes para atingir o Net Zero até 2050.

Considerações gerais ESG

Considerações gerais ESG

A transição para o Net Zero será igualmente complementada pela consideração de um vasto conjunto de outros aspetos ESG, como a perda de biodiversidade e a gestão dos resíduos das linhas marítimas e de cruzeiro.

Integração flexível de sistemas

Alavancas e pontos de rutura

O sector do transporte marítimo tem à sua disposição várias alavancas que impulsionarão as reduções de emissões.

Em 2023 a Organização Marítima Internacional (IMO) deu um passo neste caminho, comprometendo-se com novas metas de redução de emissões de GEE: emissões líquidas nulas dos navios “até ou próximo de 2050”, reduzindo as emissões de GEE dos navios em pelo menos 20% – visando 30% – em 2030 e pelo menos 70% – visando 80% – em 2040, em comparação com os níveis de 2008. A Comissão pretende fazê-lo através de dois ângulos complementares: primeiro, a melhoria da eficiência energética (ou seja, utilizando menos combustível) e, em segundo lugar, a maior utilização de combustíveis de origens renováveis e com baixo teor de carbono (ou seja, utilizando combustíveis mais limpos).

O setor marítimo enfrenta desafios para a sua descarbonização devido ao amplo espectro de tipos e tamanhos de navios, às grandes quantidades de utilização de energia e à natureza inerentemente global que exige a implementação de medidas em várias geografias.

A descarbonização depende dos seguintes fatores:

Em janeiro de 2024 o regime de Comércio Europeu de Licenças de Emissão (CELE), mecanismo de regulação das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) passou a cobrir as emissões de CO2 de todos os navios de grande porte que entrem nos portos da UE, independentemente da sua bandeira. O sistema abrange 50% das emissões provenientes de viagens com início ou fim fora da UE e 100% das emissões que ocorrem entre dois portos da UE. As companhias de navegação têm agora que adquirir licenças, em mercado primário ou secundário, até 30 de setembro de 2025 para “compensar” as emissões de 2024.

As licenças apresentam uma volatilidade de preços e exigirão desde logo planeamento e estratégias de cobertura se as entidades pretenderem mitigar a exposição a este risco. Este incentivo à aceleração dos planos de transição terá um impacto económico relevante no setor.