Nos últimos anos, temos testemunhado uma evolução sem precedentes no ritmo da inovação com a ascensão da inteligência artificial (IA) no ambiente corporativo. Ferramentas baseadas em algoritmos avançados têm se mostrado capazes de otimizar processos, reduzir custos e gerar oportunidades de negócios. Não obstante, a verdadeira transformação só acontece quando essas soluções tecnológicas caminham lado a lado com a valorização dos aspectos humanos do trabalho. Esse equilíbrio é o fundamento da gestão humanizada: um modelo que reconhece a importância da inovação e coloca as pessoas no centro da estratégia organizacional.

A gestão humanizada não deve ser entendida como uma tendência efêmera, mas como uma necessidade estratégica para o sucesso das empresas. A pesquisa “Future of Work”, da KPMG, destaca um dado alarmante: 66% dos funcionários esperam que a tecnologia aumente a produtividade nos próximos três anos, contudo, 20% deles acreditam que ela tenha prejudicado o desempenho deles no trabalho. Esse dado evidencia um desafio crescente para empresas em todo o mundo.

Todavia, dados apontam o benefício dessa trajetória humanizada nas empresas quando aplicadas: cerca de 70% do engajamento dos funcionários estão diretamente relacionados à qualidade da liderança. Líderes que adotam uma postura mais empática, próxima e transparente conseguem reduzir o absenteísmo em até 81%, aumentando a produtividade em 14% e diminuindo a rotatividade em até 43%. Esses números traduzem o impacto de um modelo de gestão que não se limita ao cumprimento de metas, mas que busca genuinamente conhecer, escutar e apoiar as pessoas.

Tecnologia como aliada

A gestão humanizada não se trata de oferecer benefícios superficiais. Trata-se, acima de tudo, de valorizar a autonomia, concedendo ao indivíduo liberdade para fazer escolhas alinhadas ao seu propósito e ao da organização. Quando líderes compreendem as necessidades e os potenciais de cada pessoa, conseguem criar estímulos que fortalecem o desenvolvimento profissional e o pessoal. Essa abordagem, na maioria dos casos, gera vínculos mais sólidos e amplia a capacidade de inovação coletiva.

No contexto atual, em que a IA avança rapidamente, esse modelo ganha ainda mais relevância. Se, por um lado, a tecnologia permite ganhos de eficiência e abre espaço para novas formas de trabalho, por outro, ela não substitui a capacidade humana de interpretar contextos, criar soluções inovadoras e cultivar relações de confiança. Empresas que entendem essa dualidade estão adotando práticas híbridas, em que ferramentas digitais apoiam líderes na análise de dados sobre clima organizacional, engajamento e bem-estar, mas sem jamais eliminar a necessidade da escuta ativa e da interação genuína.

Um exemplo desse movimento é o surgimento de apps e soluções digitais voltadas à gestão humanizada. Algumas startups já oferecem plataformas que cruzam dados de desempenho com percepções individuais, ajudando gestores a correlacionar aspectos de tecnologia e inovação à gestão de pessoas. Esses recursos não substituem a sensibilidade do líder, eles funcionam como aliado para orientar decisões acertadas sobre o desenvolvimento de talentos e a construção de ambientes de trabalho saudáveis.

Outro ponto essencial é entender que a transformação organizacional é de longo prazo e exige profundo conhecimento da cultura e do contexto de cada empresa. Não há uma fórmula única ou imediata. O que existe é a clareza de que, ao dedicar boa parte do seu tempo ao trabalho, os profissionais esperam que as organizações assumam corresponsabilidade pela qualidade de vida e pelo bem-estar. Isso implica em criar espaços em que diversidade e inclusão sejam valores reais, permitindo que as pessoas se sintam à vontade para ser quem são em sua totalidade.

Sendo assim, a diversidade, nesse sentido, é um ativo estratégico. Empresas que adotam práticas inclusivas ampliam sua capacidade de atrair e reter talentos, além de estimular equipes criativas e inovadoras. A gestão humanizada reforça esse ciclo virtuoso ao garantir que as diferenças não sejam apenas respeitadas, mas efetivamente valorizadas como parte do DNA organizacional.

Ao colocar o bem-estar dos profissionais no centro das estratégias de gestão, as empresas constroem ambientes de trabalho mais saudáveis, engajadores e produtivos. O resultado vai além da redução de rotatividade ou do aumento de produtividade: fortalece a resiliência organizacional em um cenário de mudanças constantes.

Por Camilla Padua, sócia-líder de Human Capital Advisory da KPMG no Brasil. 

Camilla Padua

Sócia-líder de Human Capital Advisory da KPMG no Brasil


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