Janine Goulart
Sócia de People Services e líder do KNOW (KPMG's Network of Women)
Para marcar o mês do Dia Internacional da Mulher, nossa entrevistada da edição de março da KPMG ESG Insights é Janine Goulart, sócia de People Services e líder do KNOW (KPMG's Network of Women), iniciativa da KPMG que trata da diversidade de gênero (veja mais informações abaixo*). O tema diversidade e inclusão está diretamente conectado ao S, Social, da agenda ESG.
Janine compartilha suas percepções acerca dos principais insights da pesquisa Global Female Leaders Outlook, que, na edição de 2023, destaca as perspectivas de 839 executivas que atuam em 53 países. No Brasil, 46 mulheres foram entrevistadas; na América do Sul, 119.
Confira na íntegra!
De acordo com os resultados da pesquisa, é possível afirmar que houve avanços relativos à equidade de gênero, considerando o cenário corporativo brasileiro e global?
A pesquisa Global Female Leaders Outlook revela que, embora ainda haja muito a ser feito para alcançar a equidade de gênero no ambiente corporativo, há sinais encorajadores de que estamos avançando nessa direção. No Brasil e no mundo, temos visto um aumento da presença de mulheres em posições de liderança e uma diversificação das funções que elas desempenham.
No Brasil, por exemplo, a pesquisa aponta que 54% das lideranças femininas estão preparando outras mulheres para sucedê-las, o que indica um desejo de fomentar a diversidade e a inclusão no ambiente corporativo. Além disso, 44% das brasileiras participantes do estudo disseram ter outras funções além da organização em que atuam, o que demonstra uma maior flexibilidade e abertura para diferentes papéis dentro do mercado de trabalho.
Ainda assim, vale ressaltar que a equidade de gênero é um processo contínuo e que ainda há muito a ser feito para que mulheres tenham as mesmas oportunidades e reconhecimentos do que os homens. Sabemos que muitas ainda enfrentam dificuldades significativas para alcançar posições de liderança em diversas organizações.
Portanto, embora seja positivo notar os avanços alcançados em relação à equidade de gênero no mercado de trabalho, é fundamental continuarmos trabalhando para que esses progressos sejam consolidados e ampliados.
Na sua opinião, quais desafios as lideranças femininas mais enfrentam em nosso País? O que é preciso fazer para alterar esse cenário?
As lideranças femininas enfrentam diversos desafios, incluindo diferentes jornadas de trabalho, a falta de reconhecimento e valorização de suas competências e habilidades, os vieses inconscientes, as microagressões, entre outros.
Para mudar esse cenário, é preciso adotar uma série de medidas, que vão desde a criação de uma rede de apoio até a conscientização e atuação de todos, sem exceção.
É importante que as empresas implementem políticas de diversidade e inclusão, que valorizem e promovam a igualdade de gênero e que ofereçam suporte para as mulheres equilibrarem a rotina profissional e pessoal. As organizações também devem atuar no desenvolvimento das executivas em todos os níveis existentes dentro das empresas, criando políticas de capacitação e mentoria para profissionais em início de carreira, bem como para aquelas que já ocupam posições de liderança. Oportunidades de desenvolvimento profissional e pessoal também são cruciais, permitindo que elas aprimorem suas habilidades.
As políticas de retenção são igualmente importantes para manter talentos. Isso pode contribuir para a criação de uma cultura de igualdade de gênero dentro das empresas, na qual as mulheres se sintam valorizadas e reconhecidas por suas competências e que consequentemente tenhamos mais mulheres na alta liderança.
Não há dúvidas de que, para mudar o cenário de desafios enfrentados pelas lideranças femininas, é necessário um esforço conjunto, com a implementação de medidas concretas e a conscientização de todos os envolvidos. Somente assim poderemos construir um ambiente de trabalho mais inclusivo.
Com base na pesquisa, a carga de trabalho semanal das mulheres, tanto as brasileiras quanto as profissionais ao redor do mundo, é bem alta. Você pode comentar a respeito, por favor?
A carga de trabalho semanal das mulheres, incluindo as que atuam em nível global e as brasileiras, é realmente bem alta, como apontado pela pesquisa. Infelizmente, quando consideramos a quantidade de trabalho remunerado e não remunerado, 35% das mulheres brasileiras trabalham mais de 80 horas por semana, o que é um número alarmante.
Dentro desse número, podemos ver que tanto as brasileiras como as mulheres de outros países trabalham pelo menos 20 horas no cuidado com a casa, os filhos e os pais. Essa rotina tem impactado de forma relevante a saúde física e mental, como indicado pelos dados da pesquisa, apontando que 69% das mulheres se sentem sobrecarregadas.
Esse cenário demonstra o quanto é fundamental que haja uma mudança cultural, na qual realmente exista uma divisão de tarefas nas famílias, bem como uma valorização dos trabalhos realizados. Vale mencionar o quanto uma conscientização dos líderes nas organizações é crucial, a fim de que todos entendam a importância da rede de apoio e do respeito às políticas que facilitam o equilíbrio entre a rotina profissional e pessoal das mulheres.
No que diz respeito aos pilares ESG, com base na pesquisa, como a agenda está evoluindo entre as executivas? Há diferenças consideráveis entre as líderes brasileiras e de outros países?
Em relação aos pilares ESG, as executivas entrevistadas mostraram uma crescente preocupação com as questões ambientais, sociais e de governança, tanto no Brasil quanto no cenário global. As líderes brasileiras tendem a enfatizar os aspectos relacionados à governança e os temas sociais, enquanto as globais dão mais ênfase às práticas relacionadas ao meio ambiente.
Há algumas diferenças consideráveis entre as líderes brasileiras e as de outros países em alguns aspectos do pilar social da agenda ESG, como as condições de trabalho. Por exemplo, as brasileiras enfrentam mais preconceito e abordagem estereotipada no ambiente profissional.
Vale ressaltar que ambas reconhecem que os aspectos ESG têm impacto no desempenho financeiro e na reputação das organizações, e que há uma maior demanda por relatórios e transparência nessa área.
Por fim, quais são as suas expectativas em relação ao avanço da equidade de gênero no Brasil e no mundo?
Minhas expectativas são positivas, mas reconheço que ainda há muito trabalho a ser feito.
A pauta da equidade de gênero muitas vezes se perde com outros assuntos que também são urgentes nas organizações, mas é importante dar prioridade à causa, focando no desenvolvimento e na retenção das executivas. Isso pode ser alcançado por meio de políticas de capacitação, mentoria, flexibilidade e retenção, permitindo que as mulheres alcancem seu pleno potencial e contribuam de forma relevante para o sucesso das empresas.
O envolvimento dos homens nesta causa é fundamental, pois eles também podem ser agentes de mudança e promover a igualdade de gênero. Além disso, é importante combater os vieses inconscientes e as microagressões, que muitas vezes impedem o avanço das mulheres no mercado de trabalho.
Acredito que, com a conscientização e o engajamento de todos, podemos avançar na equidade de gênero no Brasil e no mundo. Confesso que estou ansiosa pelo dia que não será mais necessário celebrar o Dia Internacional das Mulheres, pois todos os dias serão de todas as pessoas.
*Sobre o KNOW
O pilar KPMG’s Network Of Women, o KNOW, fomenta o protagonismo das mulheres no ambiente de trabalho, assim como o desenvolvimento de suas carreiras. A KPMG foi uma das pioneiras nesse tema no Brasil e no exterior ao fundar, em 2009, a iniciativa e, assim, também incentivar networking entre mulheres, além de outras ações que visam construir um ambiente corporativo cada vez mais inclusivo, equitativo, plural e diverso.
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