Viajar transforma-nos, mas também transforma os lugares que visitamos. Por vezes para melhor, outras para pior.

Basta pensar em destinos naturais onde a paisagem mudou com o excesso de visitantes, ou em cidades históricas onde os residentes já não encontram casa, afastados pela pressão do alojamento turístico.

O impacto ambiental do turismo é muitas vezes invisível para quem chega, mas sentido por quem fica. O voo que nos leva até um destino, o lixo que fica nas praias, a água usada nos resorts e campos de golfe, os resíduos gerados num fim de semana – tudo se soma. Há ilhas onde o lixo deixado pelos visitantes chega a ultrapassar a capacidade de recolha local, e parques naturais onde espécies foram perturbadas ao ponto de alterar hábitos e rotas de migração. A natureza não é um cenário, é um sistema vivo e frágil, e o turismo pode ser tanto aliado como ameaça. 

No lado social, as marcas são igualmente profundas. Há aldeias que renasceram graças ao turismo rural, criando emprego e devolvendo vida a ruas antes desertas. Mas também há centros históricos transformados em montras para visitantes, onde as lojas para moradores foram substituídas por souvenirs de produção massificada. Há tradições que se mantêm vivas porque há quem as queira ver, mas também há festas e rituais adaptados apenas para caberem em horários de excursão.

E a tecnologia? Será que também pode ter um papel no turismo sustentável? Plataformas de reserva, mapas digitais e aplicações de mobilidade podem ajudar a dispersar visitantes, reduzindo a pressão sobre locais saturados. Ferramentas de análise de dados permitem medir a capacidade de carga de destinos, prever picos de procura e ajustar serviços. Mas a mesma tecnologia que aproxima também pode acelerar fenómenos de massificação, tornando urgente usá-la com critério e responsabilidade.

O turismo sustentável é, no fundo, um convite à escolha consciente. Pode significar optar por alojamentos que usam energias renováveis, evitar destinos em períodos de sobrecarga, comprar diretamente a artesãos locais, ou simplesmente abrandar o ritmo da viagem para reduzir pegadas e aumentar ligações humanas.

Parte do desafio está em compreender e medir o impacto do e no turismo, para que seja possível encontrar soluções que conciliem preservação e prosperidade. Porque viajar com responsabilidade não é renunciar à descoberta – é garantir que o que hoje nos encanta continuará a encantar quem vier depois. 

*Artigo de Tiago Henriques, ESG Senior Manager da KPMG em Portugal, para o jornal ECO, a 10 de setembro de 2025.