O estudo "The Future of telco", realizado pela KPMG, descreve alguns modelos de negócio das telecomunicações do futuro? Quais são eles?
No estudo "The Future of telco" são apontados quatro "imperativos estratégicos" para as empresas de telecomunicações. Um desses imperativos é "dar o salto de empresa de telecomunicações para empresa tecnológica", e este imperativo foi aprofundado no mais recente estudo da KPMG, "From telco to techco: Towards tomorrow’s telecom". Este estudo foi apresentado e discutido com clientes no decorrer do Mobile World Congress, realizado em Barcelona no mês de fevereiro de 2024, onde são identificados três modelos de negócio emergentes para as empresas de telecomunicações do futuro:
Dominant Techcos (Empresas Tecnológicas Dominantes): Este modelo de negócio destaca-se pela liderança em inovação tecnológica, centrado no cliente e também ao nível da infraestrutura de rede e das operações. As organizações que adotam esta abordagem procuram integrar simultaneamente o investimento no desenvolvimento e na entrega de excelência de serviços inovadores aos consumidores, assim como o investimento em serviços e infraestrutura, de modo a posicionarem-se como líderes no desenvolvimento tecnológico, procurando uma constante na inovação disruptiva.
Service Techcos (Empresas de Tecnologia de Serviço): Este modelo de negócio é focado na criação e entrega de serviços inovadores centralizados no cliente. As organizações que adotam esse modelo procuram a diferenciação através da entrega de excelência em experiência do consumidor, oferecendo soluções personalizadas às necessidades individuais.
Network Techcos (Empresas de Tecnologia de Rede): Este modelo de negócio está centrado no investimento na infraestrutura de rede e na eficiência operacional. As organizações que adotam este modelo procuram otimização na gestão de redes, através da utilização de tecnologias avançadas de última geração, tais como, automação e inteligência artificial, com o principal foco em melhorar a eficiência e a fiabilidade da infraestrutura.
Em que se basearam para chegar a estes três modelos de negócio?
Só com um conhecimento extenso destes três modelos de negócio é que a KPMG pode ser um parceiro importante na transformação deste setor.
Deste modo, em resultado do conhecimento que a KPMG tem do setor de telecomunicações e da experiência acumulada dos múltiplos projetos desenvolvidos a nível nacional e internacional, complementado com o research realizado em fontes de referências, como a associação global da indústria para prestadores de serviços e fornecedores na indústria de telecomunicações (TM Forum) e a organização global dos operadoras de telecomunicações (GSMA), projetamos que estes serão os modelos de negócio, num futuro próximo, para o setor de telecomunicações.
Pode indicar a que tipo de estrutura organizacional cada um deles corresponde melhor?
Quanto à estrutura organizacional de cada modelo de negócio, antecipamos que as seguintes configurações deverão estar presentes ou ser desenvolvidas:
Dominant Techcos: Uma estrutura que incorpora elementos dos Service Techcos irá adotar os princípios orientados para o serviço dos Service Techcos, como os dos Network Techcos e as redes e as infraestruturas fundamentais para uma conetividade robusta e eficiente, através de uma abordagem flexível e dinâmica que se destaca pela integração sinérgica destes serviços especializados.
Service Techcos: Uma estrutura organizacional fortemente centrada no cliente, sobressaindo-se pela excelência na experiência do consumidor e onde se destaca o investimento em departamentos de atendimento ao cliente, marketing e de pesquisa de novas tendências no mercado e melhores práticas.
Network Techcos: Uma estrutura organizacional mais técnica e orientada para operações, com principal foco no desenvolvimento de departamentos de engenharia, de operações de rede e de tecnologia da informação.
Há vários sinais de mudança mencionados no estudo que justificam a necessidade de se evoluir para outros modelos de negócio. Entre eles está o aumento das expetativas dos clientes, que querem um serviço melhor e mais flexível, bem como soluções mais sofisticadas e rápidas. Quais os passos a dar para conseguir oferecer isto?
No âmbito do estudo em questão, foram identificadas as principais dimensões dos passos necessários a serem desenvolvidos para o aumento das expetativas dos clientes:
Avaliar as suas capacidades atuais: Identificar pontos fortes que possam ser aproveitados e lacunas que precisam de ser abordadas para preparar a transformação.
Decidir onde atuar no mundo da tecnologia: Criar uma identidade distinta que responda às exigências do mercado em transformação e à sua proposta de valor única.
Considerar os principais fluxos de valor: Compreender o que vai trazer valor para o negócio, clientes e partes interessadas.
Identificar as principais capacidades necessárias para lá chegar: Criar um plano estratégico para impulsionar as capacidades necessárias para oferecer novos fluxos de valor.
Definir a estratégia para a jornada de transformação: Priorizar o design e a construção dos fluxos de valor da transformação e determinar o equilíbrio certo entre a operação normal do negócio e as iniciativas em curso.
Ir além da tecnologia: Fomentar uma cultura que integre talento, conformidade e governança, para incutir agilidade e inovação no ADN corporativo.
Aproveitar as parcerias, co-desenvolvimento e apoio de parceiros externos: Criar um ecossistema de parceiros que possa ajudar a catapultar a inovação, impulsionar o crescimento e facilitar a penetração no mercado.
Uma possível recessão mundial é apontada no estudo como um fator que pode contribuir para o abrandamento da implementação do 5G e, consequentemente, para um aumento da vantagem para a concorrência. Mas há forma de contornar esta possibilidade?
Uma possível recessão mundial é sempre vista como um fator que pode desacelerar o investimento. Deste modo, de forma a contornar esta possibilidade, os operadores de telecomunicações devem procurar manter uma forte disciplina de eficiência operacional em conjunto com um modelo de colaboração e de parcerias flexíveis. Desta forma mantém-se uma lógica de alinhamento direto entre os custos de investimento em infraestrutura e a oferta de serviços inovadores e diversificados que vai de encontro à procura de mercado, mesmo em períodos económicos desafiadores.
A tecnologia é um ponto comum em todos os fatores apontados no estudo como "imperativos estratégicos" para as empresas de telecomunicações. Os fatores mencionados são "duplicar a rede", "foco na front-end", "melhorar os serviços geridos" e "dar o salto de empresa de telecomunicações para empresa tecnológica". Como é que isto se faz e se cumpre?
No recente estudo que a KPMG desenvolveu, "From telco to techco: Towards tomorrow’s telecom", são identificadas as seguintes ações que as operadoras de telecomunicações podem desenvolver para dar o salto de empresa de telecomunicações para empresa tecnológica:
Centrar na experiência por design: Priorizar a experiência do cliente permite às empresas criar interações intuitivas e envolventes com os clientes. Inclui o design de serviços que não sejam apenas funcionais, mas também emocionalmente memoráveis.
Produtos e serviços inovadores: As empresas devem investir em pesquisa e desenvolvimento para oferecer soluções que satisfaçam as exigências em constante evolução dos clientes, tais como conteúdo personalizado, dispositivos domésticos inteligentes e ecossistemas digitais integrados.
Interações e comércio sem falhas: O foco aqui está em criar uma jornada de cliente unificada em todos os canais digitais e físicos, através do aproveitamento de tecnologias como CRM e plataformas de comércio eletrónico para lidar com interações complexas com os clientes sem atritos.
Força de trabalho alinhada e capacitada: As empresas necessitam de uma força de trabalho capaz de impulsionar e apoiar a inovação. Isto significa investir em programas de formação alinhados com as necessidades de competências futuras e com a criação de uma cultura que abrace a mudança e a inovação.
Estratégias e ações orientadas por insights: Aproveitar o big data e a análise avançada permite às empresas tomar decisões informadas que respondem às expetativas dos clientes e criam uma base para estratégias adaptáveis de marketing e oferta de serviços dinâmica.
Ecossistema integrado de parceiros e alianças: Criar um ecossistema de parceiros, incluindo fabricantes de equipamentos, developers de software e fornecedores de serviços, permite às empresas aceder a inovações tecnológicas através dos ativos e especialidades de cada parceiro.
Operações e logística responsivas: A capacidade de responder rapidamente a alterações na procura, atualizações tecnológicas e possíveis interrupções do sistema é crucial para os operadores. Isto inclui ter uma rede logística ágil e um sistema de gestão de inventário que possa adaptar-se às necessidades dinâmicas de implementação e manutenção de rede.
Arquitetura tecnológica digitalmente habilitada: Para os operadores, uma arquitetura digitalmente habilitada significa ser capaz de suportar tecnologias emergentes como 5G, cloud computing e edge computing, com uma rede flexível e escalável que possa suportar as crescentes exigências de dados e exigências complexas dos consumidores e empresas modernas.
Como encara o futuro das telecomunicações?
Quanto ao futuro das telecomunicações, a transição para modelos de negócios mais tecnológicos é inevitável. Acreditamos que as operadoras têm de se tornar cada vez mais conetadas ao ecossistema que as envolve, as suas organizações, clientes e partes interessadas. Devem ser ágeis e robustas o suficiente para desenvolver serviços inovadores de forma a captarem segmentos de mercado específicos. Além disso, é crucial adotar uma abordagem para a transformação digital centrada no cliente, conetando front, middle e back office. O foco na inovação, na adaptação contínua como resposta às necessidades do cliente são essenciais para o sucesso a longo prazo no setor de telecomunicações.