O progresso da inteligência artificial não é apenas mais um ciclo tecnológico como na última eclosão do surgimento da internet — trata-se de uma inflexão profunda que está redefinindo a atuação dos CEOs em todo o mundo.

Se antes o papel do líder executivo era ser um orquestrador estratégico, hoje ele é também um explorador tecnológico, responsável por iniciativas que reduzam a dependência de intermediários, explorem rapidamente ideias, estimulando a cultura de inovação, sobretudo em um mundo cada vez mais automatizado.

Segundo a pesquisa Global Tech Report, da KPMG, 43% das empresas brasileiras já fazem uso estratégico de inteligência artificial, enquanto 19% realizam testes e pilotos, muitas vezes de forma isolada.

Isso mostra que a IA já não é mais uma promessa distante, mas uma realidade que exige preparação e ação prática. A questão é: como os CEOs estão incorporando essa nova ferramenta visto que ela é inevitável atualmente?

A resposta parece simples, mas contém diversas ramificações. Um número crescente de líderes empresariais está buscando preparação pessoal para compreender o potencial da IA — um movimento confirmado pela pesquisa da Cisco, segundo a qual 61% dos CEOs priorizam sua capacitação individual, mais até do que o treinamento da própria força de trabalho.

Essa escolha pode sinalizar uma liderança pelo exemplo, mas também reforça um ponto crucial: a preparação do CEO deve ser um catalisador de transformação cultural, e não um fim em si mesma.

Naturalmente, um dos fenômenos que vem ganhando destaque é o uso pessoal de ferramentas de IA generativa, como o ChatGPT. De acordo com Gartner, 7% dos CEOs utilizam essas soluções diretamente.

Essa prática simboliza mais do que o uso, representa um esforço concreto de entender a tecnologia “com as próprias mãos”, moldando decisões menos dependentes de relatórios técnicos e mais alinhadas à prática cotidiana.

Por outro lado, a utilização dessas ferramentas tecnológicas traz desafios diários como a superficialidade nas respostas, riscos de vazamento de dados e falta de responsabilidade nas empresas.

A IA pode, sim, assumir tarefas analíticas e operacionais, mas ainda não substitui atributos essenciais da liderança: criatividade adaptativa com um discurso inspirador pode gerar um ganho na eficiência na produtividade mobilizando cada vez mais os colaboradores.

Essa visão do mercado é reforçada por uma pesquisa da plataforma edX, que revelou que 47% dos executivos acreditam que a maioria das funções de um CEO poderia ser automatizada. Mas há uma distinção fundamental entre automação e substituição.

Automatizar a análise de mercado ou a comunicação básica com funcionários pode gerar eficiência. Porém, decisões estratégicas, adaptação criativa e liderança situacional continuam sendo campos em que a inteligência humana é insubstituível.

Ainda de acordo com Gartner, 86% dos CEOs acreditam que a IA pode ampliar a receita, mas ainda com foco maior em ganhos de produtividade do que na criação de novos modelos de negócio.

Esse descompasso revela uma oportunidade: migrar de uma visão tática da IA para uma aplicação verdadeiramente estratégica, em que a tecnologia seja usada para inovar em produtos, serviços e até no impacto social — incluindo frentes como os aspectos ESG, investimentos em ética, governança e explicabilidade, ou seja, a capacidade de explicar como o modelo chegar àquela determinada decisão ou previsão.

O CEO de 2025 e do futuro não é um ser substituível por algoritmos — é um profissional que combina domínio técnico, visão estratégica e sensibilidade humana. O algoritmo, embora poderoso, não substitui a intuição, o julgamento ético e a capacidade de inspirar.

A tecnologia, quando bem integrada à estratégia corporativa, transforma a liderança em algo mais humano, informado e ousado. O futuro não será sobre máquinas que substituem líderes, mas sobre líderes que sabem como ampliar suas capacidades com a ajuda das máquinas.

Por Charles Krieck, presidente da KPMG no Brasil e na América do Sul, e Ricardo Santana, sócio-líder de Data & Analytics, Automação e Inteligência Artificial da KPMG no Brasil. 


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