O Brasil se prepara para sediar a 30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que acontecerá na cidade de Belém (Pará), em novembro. Centenas de líderes globais estarão reunidos para debater ideias, definir metas e compromissos sobre como o mundo enfrentará a crise climática e qual será o plano para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Trata-se de um momento de reflexão em que também será relembrado o que foi definido na COP29, realizada em Baku (Azerbaijão), e chamada a atenção para o fato de que é necessária a colaboração de todos para lidar com os desafios colocados.

Contudo, tão importante quanto a realização das Conferências anuais é o que é realizado entre esses eventos. É justamente nesse período em que são concretizadas as ações determinadas pelas lideranças mundiais. Entre as COPs, países e empresas planejam ações, buscam financiamento, fecham acordos e parcerias etc. Além disso, líderes definem agendas de transição e adaptação.

A questão levantada é que também seja dada a devida importância para agenda do que é feito, implementado e acordado no intervalo entre as Conferências, já que elas acabam ficando restritas a apenas 10 a 15 dias por ano. A discussão, reflexão e realização efetiva de iniciativas para combater as mudanças climáticas não podem ocorrer apenas durante a realização dos encontros. O desafio é fazer com que governos, empresas e sociedade civil mantenham essa agenda sempre ativa.

Três principais ações para mitigar os impactos da mudança do clima

O compromisso entre as COPs precisa levar em conta três aspectos importantes nessa jornada contra a crise climática. O primeiro e mais urgente diz respeito à redução drástica de desperdício de comida em função do impacto que a produção dos mais diversos tipos de alimentos tem no clima.

Segundo o relatório “Índice de Desperdício de Alimentos”, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, da Organização das Nações Unidas (ONU), o mundo joga fora mais de 1 bilhão de refeições por dia, sendo isto responsável por 8% a 10% da emissão global de GEEs. O documento trouxe outro alerta – o desperdício de alimentos está prejudicando a economia global e, principalmente, fomentando a mudança climática, a perda da natureza e a poluição. O levantamento apontou ainda que, entre os países do G20, apenas Austrália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos têm estimativas de desperdício de alimentos adequadas para acompanhar o progresso até 2030.

A ONU colocou o Brasil, sexto país mais populoso do mundo, entre as dez nações que mais desperdiçam alimentos. Contraditoriamente, o País registrou, em 2023, 64 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar, sendo 8,7 milhões em situação grave, ou seja, fome, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados mostraram que a insegurança alimentar está mais presente nas regiões Norte (60,3%) e Nordeste (61,2%), sendo que o Pará apresentou a maior proporção de domicílios com este perfil (20,3%).

O segundo aspecto que deve ser levado em consideração é o fomento de fontes de energias renováveis para o uso de setores, sobretudo, o transporte. Hoje, a atual matriz elétrica brasileira é composta por 88% de fontes renováveis, sendo metade da energia gerada de fontes hidrelétricas, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A projeção feita pelo órgão é que esse índice chegue, em 2027, a 89% de renováveis, com as fontes solares, eólicas e mini e microgeração distribuída, representando 38% do total.

Nesse cenário, a geração de energias eólica e solar vem ganhando destaque, mas ainda há espaço para expansão e consolidação dessas fontes como pilares fundamentais na geração de uma economia de baixo carbono. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) colocou o Brasil num lugar de destaque na produção de energia limpa entre os países que compõem os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã). O crescimento de uma matriz de energia limpa ajudará o governo brasileiro a alcançar o compromisso de atingir a neutralidade climática em 2050 em vez de 2060, estipulado inicialmente.

No terceiro pilar, a regeneração das áreas degradadas com a transição da agricultura convencional para a regenerativa contemplaria essa agenda prioritária entre as COPs. Este modelo adota boas práticas agrícolas sustentáveis que promovem a biodiversidade, redução das emissões, conservação do solo, o uso eficiente da água e o bem-estar social. Com isso, reabilita o ecossistema já que sequestra mais carbono do que tradicional.

De acordo com o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), parte das empresas já vem implementando essa estratégia e colhendo importantes resultados na cadeia produtiva, mas ainda há desafios como a promoção de engajamento dos produtores rurais, escalabilidade e impactos socioambientais e econômico-financeiros positivos.

Por fim, sabemos que as empresas são parte óbvia dessa equação. Os impactos da crise climática estão afetando todas as cadeias de negócios desde agricultura, mineração, passando por seguros, até saúde e turismo. Cabe, não só ao setor público, mas ao privado fomentar e manter a implementação dessa agenda de iniciativas sustentáveis em pleno vapor durante todas as 52 semanas do ano.


Mais insights