Ao observar o cenário atual de serviços financeiros, muito se discute sobre o conceito de Embedded Finance e como ele pode apoiar a entrada no segmento financeiro de novos participantes que não atuam na área.

Embedded Finance significa “finanças integradas” ou “finanças embarcadas”. Para exemplificar a definição de “finanças embarcadas”, pode-se considerar um varejista que oferece ao seu cliente uma extensão de crédito para que ele realize suas compras pelo cartão de crédito do próprio varejista e efetue o pagamento em um momento futuro. Da mesma forma, o varejista pode oferecer a mesma extensão de crédito aos seus fornecedores por meio da antecipação de recebíveis.

Esse processo pode ocorrer de forma inovadora e fluída, onde o responsável pela empresa tem acesso a diversos novos serviços, não somente o crediário (como foi adotado no passado pelos varejistas), potencializando a cadeia de valor principal. Além disso, a entrega é realizada de forma a calibrar a experiência de cada cliente.

O modelo de finanças embarcadas, portanto, é uma oportunidade a ser adotada por varejistas, atacadistas, indústrias, cooperativas, produtores, prestadores de serviço, empresas de telecomunicações, entre outros, que tenham uma base de clientes ou fornecedores que necessitem de serviços financeiros, aos quais possam ser oferecidos produtos e serviços financeiros sem a necessidade de intermedição de instituições financeiras.

Com base nas finanças embarcadas, é possível utilizar APIs (Application Programming Interface ou Interface de Programação de Aplicação, em português) entre empresas de segmentos variados, como e-commerces, plataformas de marketplace, provedores de serviços financeiros e produtos de backoffice com estrutura de tecnologia. É oferecida então aos clientes uma seleção de produtos financeiros, principalmente aqueles relacionados a meios de pagamento, como contas digitais, concessão de crédito, seguros e investimentos.

A premissa e o contexto que formam a base dessa oportunidade são o desenvolvimento de plataformas e a exposição dos serviços financeiros de maneira mais intuitiva, em que os aplicativos e o ecossistema de serviços são potencializados por meio de uma experiência inovadora integrada às ofertas originais da empresa.

Acrônimos como BAAS (Banking as a Service) e CAAS (Credit as a Service) são exemplos de modelos de negócios que permitem uma experimentação e validação de teses pela empresas de origem não financeira.

Um estudo realizado pela Juniper Research[1] prevê que, em 2026, o mercado de finanças embarcadas atingirá a marca de 138 bilhões de dólares, representando um aumento de 215% no volume de operações no período de 2021 a 2026.

Esse movimento de colaboração entre as empresas que não atuam no segmento financeiro e as instituições financeiras apresenta uma perspectiva de aumento no potencial competitivo do mercado e na satisfação do consumidor, podendo ampliar a inclusão de clientes com acesso ao mercado financeiro e proporcionando educação financeira, além da diversificação nas fontes de receitas no segmento financeiro e da redução de custos de capital.

Vale lembrar que o modelo de finanças embarcadas pode tornar as organizações que não atuam no segmento financeiro receosas a adotar nessa tendência, já que essa estratégia requer o cumprimento das diretrizes definidas pelo Banco Central relacionadas à governança corporativa, controles internos, compliance, segurança de informação, privacidade de dados e proteção contra variados tipos de fraudes inerentes ao segmento financeiro. Todas essas normas devem ser observadas pelas empresas que pretendem atuar no segmento financeiro.

A agenda propositiva do Banco Central, regulador do setor financeiro, em seu conceito BC#, tem calibrado os processos de regulação e de supervisão para ampliar a simetria de regras e de modelos de negócios.

O modelo de finanças embarcadas tem potencial para gerar diversos casos de uso, possibilitando que empresas não financeiras desenvolvam novos modelos de negócios com ênfase na oferta de serviços financeiros, como CaaS (Credit as a Service) e BaaS (Banking as a Service), facilitados pela utilização de APIs e de infraestruturas reduzidas com o apoio de prestadores de serviços de tecnologia.

Adicionalmente, em razão da criação de uma linha de serviços financeiros, também há a necessidade de avaliação da estrutura societária e do modelo tributário atual da empresa para suportar a nova operação e alcançar maior eficiência tributária.

Dessa forma, empresas que disponibilizarem novas produtos e serviços financeiros digitais aos seus clientes por meio do modelo de finanças embarcadas poderão apresentar vantagens competitivas no mercado financeiro tradicional, o que demandará alterações em sua cadeia de valor, investimentos em tecnologia, compliance e proteção de dados e na jornada de experiência do consumidor.

Trata-se de uma oportunidade de nova fonte de receita e melhoria do engajamento de clientes no ecossistema das organizações, podendo potencializar novos caminhos e modelos de negócios no contexto de serviços financeiros.

[1] TETNOWSKI, Dominique. Embedded Finance: Key Trends, Segment Analysis & Market Forecasts 2022-2027. Juniper Research, 2022. Disponível em: <https://www.juniperresearch.com/researchstore/fintech-payments/embedded-finance-research-report?ch=embedded%20finance>. Acesso em: 19 dez. 2022.


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