Pedro Cruz, ESG Coordinator Partner da KPMG, participou num dos painéis mais desafiantes do Congresso Nacional do Azeite, centrado no impacto das práticas de sustentabilidade ambiental, social e de governance (ESG) no setor.
Para o responsável da KPMG, a essência do ESG passa por garantir que as empresas operam de forma responsável: “Estamos a falar, essencialmente, como é que questões ambientais, questões sociais e questões de governance têm que ser endereçadas pelas empresas, no fundo para garantir que a forma como operam está alinhada com os princípios”.
Pedro Cruz sublinha que estes princípios têm custos associados. “Isso obriga a descarbonizar os negócios, a tentar usar os recursos de forma mais eficiente, e isso traz custos”. E a grande questão que se impõe, diz, é se “os consumidores estariam ou não disponíveis para pagar o prémio, de modo a compensar os produtores pelos custos adicionais de compliance”.
O painel de que participou não fugiu à polémica: “Uma das pessoas que estava na audiência perguntou-nos precisamente isso, se nós achávamos que os consumidores estavam disponíveis para pagar mais, para terem um produto verde, sustentável”.
Com base num estudo realizado pela KPMG, Pedro Cruz trouxe à conversa o fator geracional: “Os muito jovens estavam disponíveis a pagar um prémio às vezes de 50%, e eu brincava porque provavelmente não são eles que pagam as contas, são os pais. Os mais velhos também aceitavam pagar um prémio, embora não tão generoso, e depois as pessoas que no fundo estão mais pressionadas, na faixa dos 30 aos 50 anos, aceitavam pagar um prémio, mas pequeno”.Há, no entanto, uma linha comum: “As pessoas estão conscientes e querem fazer uma escolha que privilegie produtos que sabem que foram produzidos com práticas sustentáveis e que cuidam da mão de obra, mas depois no final do dia tem que haver um pragmatismo”.
Pedro Cruz lembra que a União Europeia já estabeleceu um enquadramento obrigatório para o reporte de sustentabilidade empresarial: “As empresas têm que preparar, para já as grandes, e depois temos uma fase em que vai apanhar empresas mais pequenas, um framework de reporte que, no fundo, a primeira base é perceber quais é que são os temas que são relevantes para cada empresa”.
A abordagem, no entanto, não é uniforme. “Não há uma lógica de exigir as mesmas métricas e o mesmo reporte a todas as empresas, porque não fazia sentido. Cada setor tem, obviamente, temas específicos”.
Mas há também uma característica estratégica essencial: “É um setor exportador, portanto, hoje em dia, uma grande parte da produção é exportada”.
Do trabalho desenvolvido com empresas do setor, o responsável da KPMG partilha uma tendência clara: “Temos as grandes empresas, de facto, já há algum tempo, e de forma voluntária, a preocuparem-se com estes temas no ambiente, no reporte. As mais pequenas, com menos capacidade financeira para fazer os investimentos necessários, correm um bocadinho atrás das maiores empresas, que acabam por servir um pouco de catalisadoras para o setor”.
*Artigo sobre Pedro Cruz, ESG Coordinator Partner da KPMG em Portugal, na Revista Voz do Campo, a 8 de julho de 2025.