A caminho do reporte obrigatório: Estudo sobre o Reporte de Sustentabilidade de 2024, da KPMG

As Empresas começam a preparar-se para o novo paradigma de reporte obrigatório sobre sustentabilidade

A pesquisa demonstra que os relatórios de sustentabilidade se tornaram “business as usual” para quase todas as 250 maiores empresas do mundo, assim como para a grande maioria das 100 maiores empresas de cada país, território ou jurisdição. Esta verifica também que nos últimos dois anos assistimos a aumentos significativos na proporção das empresas que publicam metas de redução de carbono, contrariamente à proporção de empresas que divulgam relatórios sobre biodiversidade, que permanece baixa, mas aumentou também desde 2022.

Esta pesquisa identifica que em breve serão obrigatórias em algumas jurisdições, nomeadamente na União Europeia com a Diretiva de Relato de Sustentabilidade Corporativa (CSRD). O relatório da KPMG inclui insights das firmas-membro da KPMG e baseia-se na experiência dos especialistas da KPMG em todo o mundo.

As conclusões da edição de 2024 do estudo da KPMG sobre o reporte de sustentabilidade fornece uma confirmação clara da rápida evolução a que assistimos nas comunicações de informação de sustentabilidade das empresas, sendo que os investidores e financiadores têm sido impulsionadores relevantes no reforço da importância da disponibilização destas informações.

Um outro aspeto claro é a desmistificação de uma perceção de que este é um fenómeno essencialmente da União Europeia e impulsionado apenas pela regulação que agora entrará em vigor. Na verdade, encontramos em outras geografias taxas de reporte de sustentabilidade e compromisso com metas de redução de carbono mais altas do que em países da União Europeia. A evolução é clara e sólida mas perspetiva-se um ano de 2025 disruptivo nesta área e durante a qual veremos a concretização da aplicação de conceitos disruptivos como a Dupla Materialidade e Planos de Transição e Descarbonização mais suportados e ambiciosos.



João Torres
ESG Associate Partner
KPMG em Portugal

Seis principais tendências identificadas na pesquisa:

 
 
  • A elaboração de relatórios sobre sustentabilidade e a definição de metas de carbono tornaram-se parte da rotina habitual dos negócios. Tanto os relatórios de sustentabilidade como as metas de carbono foram adotados por quase todo o grupo global de empresas G250 e por quatro quintos dos grupos N100.

 

  • Algumas empresas já alteraram as práticas de reporte em antecipação à mudança para relatórios obrigatórios sobre sustentabilidade no âmbito da CSRD da UE (regras em vigor a partir de 2025 no relato sobre 2024). No entanto, algumas empresas, principalmente com sede na Europa ou com atividades na Europa, já estão a preparar-se para a CSRD, reportando tópicos materiais de acordo com a ESRS. Quase metade das empresas europeias incluídas na pesquisa já fazem divulgações utilizando a taxonomia da UE.
 
  • Quase quatro quintos dos grupos G250 e N100 utilizam avaliações de materialidade. A dupla materialidade é a forma mais completa de avaliação da materialidade, exigida pela CSRD, e já foi utilizada por metade das maiores empresas. É provável que a sua adoção seja mais ampla do que o espaço da UE, em que o exercício se tornará obrigatório.
 
  • Apesar dos movimentos no sentido do reporte obrigatório, as diretrizes e normas voluntárias continuam a ser amplamente utilizadas.
 
  • A divulgação de informações sobre a biodiversidade continua a aumentar.
 
  • A adoção das recomendações do Grupo de Trabalho sobre Divulgações Financeiras Relacionadas com o Clima (TCFD) continuou a aumentar com a IFRS S2 pronta para ser implementada.

Nota: Lançado pela primeira vez em 1993, a pesquisa KPMG sobre Relatórios de Sustentabilidade é publicado a cada dois anos, fornecendo análises dos relatórios de sustentabilidade e ESG de 5.800 empresas em 58 países e jurisdições. Com mais de 180.000 pontos de dados combinados num único conjunto de dados, o relatório oferece uma análise verdadeiramente abrangente do progresso atual nos relatórios ESG das maiores empresas do mundo. A análise inclui dados sobre ‘N100s’ – as 100 maiores empresas do cada país, incluindo Portugal e inclui o ‘G250’ – as 250 maiores empresas do mundo em volume de negócios com base na classificação Fortune 500 de 2023.

Conclusões do Estudo e a Visão de Portugal

Relatórios ESG e de sustentabilidade

A CSRD tornará obrigatórios os relatórios sobre ESG e sustentabilidade para cerca de 50.000 empresas, incluindo milhares sediadas fora da UE, incluindo mais de 3.000 nos Estados Unidos da América.

Mas a importância da relevância do reporte está longe de ser um movimento apenas europeu: todas as empresas analisadas pela KPMG no Japão, Malásia, Singapura, África do Sul, Coreia do Sul, Tailândia e Estados Unidos da América relatam ESG e sustentabilidade.

Em Portugal 91% das empresas analisadas reportou sobre sustentabilidade, um incremento assinalável por comparação com a taxa de reporte de 85% verificada no estudo de há dois anos.

 

Diretrizes e normas

As normas mais populares continuam a ser as da Global Reporting Initiative (GRI), que são utilizadas por 77 das 250 maiores empresas do mundo.

Nos países da União Europeia, diversas empresas já estão a incorporar as normas ESRS e a Taxonomia da UE, evidenciando a adaptação aos novos requisitos obrigatórios, que já têm impacto nas empresas, mesmo antes de entrarem em vigor para efeitos legais (com início da aplicação a partir dos relatórios de 2025, referentes ao ano de 2024)

Mais de metade das empresas N100 nos países da UE Alemanha, Itália, Portugal, Roménia, Espanha e Suécia usam a taxonomia  da UE, nível que em Portugal ascende a 68% das empresas.

No que diz respeito à referência às ESRS destaca-se a adoção antecipada de Espanha (66%), surgindo Portugal em quinto lugar ao evidenciar-se que 24% das empresas já fez referência nos seus relatórios de 2023 às normas ESRS.

 

Metas de redução de carbono

As metas de redução de carbono tornaram-se quase omnipresentes entre as 250 maiores empresas do mundo, com 95% a utilizá-las (2022: 80%) . O número para todas as 5.800 empresas pesquisadas é de 80%.

Contrariamente a uma perceção instalada, uma vez mais entende-se que este movimento não está sobretudo concentrado na Europa: essas metas são publicadas por todas as empresas japonesas incluídas na amostra e por 93% das empresas chinesas, sendo que estas últimas representam um aumento de 55 pontos percentuais em relação aos 38% em 2022.

Em Portugal 91% das empresas analisadas apresenta já metas de redução de carbono, denotando uma subida de 18 pontos percentuais face ao estudo KPMG de há dois anos.

 

Assurance sobre a informação de Sustentabilidade

A verificação da informação de sustentabilidade com garantia limitada de fiabilidade ainda não é uma realidade, entrará em vigor a partir de 2024 na Europa. Mas entre as empresas europeias, de forma agregada já 59 por cento dos relatórios da pesquisa foram objeto de garantia independente de fiabilidade.

Mais de 80% das empresas de Itália, Japão, Holanda, Coreia do Sul e Taiwan já têm o seu relatório objeto de verificação. Em Portugal 70% dos relatórios analisados foram já objeto de garantia limitada independente de fiabilidade.

 

Materialidade

Esta edição introduz a cobertura da dupla materialidade, ao abrigo da qual as empresas avaliam os seus impactos (positivos ou negativos) na sociedade e no ambiente ao mesmo tempo que avaliam os riscos e oportunidades, ou seja, como os aspetos ESG podem afetar o seu desempenho financeiro (a dupla materialidade passa a ser exigida pela CSRD na UE a partir deste ano de 2024.

A pesquisa concluiu que 42% de todas as 5.800 empresas utilizam já o conceito de dupla materialidade e que 79% realizam qualquer uma avaliação de materialidade (81% em Portugal).

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