Nos últimos anos, a crescente consciencialização sobre a sustentabilidade e a responsabilidade social corporativa trouxe à tona a importância da "Avaliação de Impacto ESG" (Environmental, Social and Governance). As empresas estão sob pressão crescente para mostrar que contribuem positivamente para a sociedade para além de gerarem lucros para os acionistas. Atualmente, em muitos setores e mercados, o impacto positivo que uma organização gera para a sociedade pode fazer a diferença entre ganhar ou perder um contrato.

A avaliação de impacto ESG oferece às empresas uma ferramenta crucial para quantificar e valorizar as externalidades, tanto positivas como negativas, relacionadas com as suas operações e cadeia de valor. Estas externalidades referem-se a efeitos que as atividades empresariais provocam em terceiros, que não são refletidos diretamente nos preços de mercado, e podem ser positivas, como a criação de emprego e o desenvolvimento de infraestruturas, ou negativas, como a emissão de gases com efeito de estufa, poluição e a desigualdade social.

Através desta abordagem, as externalidades são identificadas, medidas e traduzidas em termos monetários. Ao considerar fatores ambientais, sociais e de governação, a empresa pode ir além das métricas tradicionais de desempenho financeiro, proporcionando uma visão holística do seu verdadeiro impacto na sociedade e no ambiente. Nos negócios, repete-se frequentemente a famosa frase de Peter Drucker “You can’t manage what you can’t measure”. Isto é igualmente verdade quando se trata da forma como as empresas afetam a sociedade e o ambiente.

Ao atribuir um valor monetário aos impactos das atividades empresariais, a avaliação de impacto ESG possibilita a tomada de decisões mais informadas, através da identificação das atividades que estão a criar um maior valor social e ambiental e quais estão a gerar custos para a sociedade, permitindo à organização a definição e implementação de estratégias que maximizem os impactos positivos e minimizem os negativos, contribuindo para uma gestão mais responsável e sustentável das atividades empresariais.

A determinação de uma métrica comum permite também comparar o impacto da organização em todos os tópicos (social, ambiental, governação) e identificar o que é mais relevante, de maior impacto, traduzindo-se na consideração deste impacto ao avaliar as decisões de investimento: não olhar apenas para o retorno financeiro, mas considerar simultaneamente a forma como o investimento afeta as comunidades e ecossistemas.

Para os investidores de impacto, esta avaliação permite obter uma visão mais abrangente do risco e do retorno associado a um investimento. Investimentos que geram impactos negativos significativos, como danos ambientais ou violações de direitos humanos, podem resultar em riscos reputacionais e financeiros.

A dimensão do mercado dos investimentos de impacto tem crescido rapidamente nos últimos anos. De acordo com o Impact Investing Global Market Report 2024, em 2023 representava cerca de 478 mil milhões de dólares.

  

Um outro aspeto relevante tem a ver com a crescente necessidade de conformidade regulamentar. À medida que as empresas navegam na implementação de novos regulamentos, como a Diretiva de Reporte de Sustentabilidade Corporativo (CSRD) da União Europeia, as empresas são obrigadas a divulgar informações sobre os seus impactos ESG. Embora a maioria das empresas que adota pela primeira vez a CSRD esteja a utilizar uma abordagem qualitativa e frequentemente descritiva para a análise de Dupla Materialidade – a pedra base da preparação da organização para dar resposta à CSRD e que especifica que as empresas devem avaliar tanto o efeito financeiro de tópicos de sustentabilidade nos seus negócios (através da identificação de riscos e oportunidades), como o impacto externo das suas atividades comerciais no ambiente e na sociedade (através da identificação de impactos) – algumas empresas estão atualmente a trabalhar no sentido de integrar a avaliação de impacto ESG neste processo, em que após identificar os impactos materiais da empresa (positivos e/ou negativos), é aplicado um valor financeiro a esses impactos.

Para apoiar as empresas neste processo, a KPMG desenvolveu a ferramenta True Value – que considera uma metodologia flexível, passível de ser aplicada a diferentes níveis de granularidade, como por exemplo um projeto específico, unidade de negócio/instalação ou à empresa como um todo.

  

Podemos ver na figura abaixo uma representação esquemática da avaliação de impacto (Fonte: KPMG, Generic KPMG True Value Bridge), com as várias peças que concorrem para a determinação do impacto (positivo e negativo) e do verdadeiro valor gerado pela organização.

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Ao quantificar e valorizar as externalidades das suas atividades, as empresas podem tomar decisões mais informadas, minimizar riscos e maximizar os seus contributos positivos para a sociedade e o ambiente. No contexto atual, onde a sustentabilidade se tornou um fator crítico de sucesso, a Avaliação de Impacto ESG representa não apenas uma boa prática, mas uma necessidade para qualquer empresa que pretenda prosperar a longo prazo.

  

Artigo de Beatriz Maio, Manager de ESG, em co-autoria com João Silva, Advisor de ESG.