A integração das dimensões do ESG em processos due diligence continua a ser uma prioridade para os intervenientes neste tipo de transações. No mais recente estudo global de due diligence realizado pela KPMG, os entrevistados referem um aumento na importância de temas ESG nas transações nos últimos 12 a 18 meses, apesar dos desafios que a incorporação desta dimensão coloca.

É um facto que muitos mercados globais de fusões e aquisições desaceleraram nos últimos meses, quer devido ao aumento das taxas de juros, quer em resultado da atual incerteza geopolítica e económica. Estes fatores tiveram impacto não só no volume de transações, mas também ao nível daqueles que são considerados os fatores críticos em processos de M&A, forçando o debate sobre o mérito da inclusão da dimensão ESG como fator relevante para as decisões sobre os seus investimentos.

Apesar destes ventos contrários, os resultados do recente estudo da KPMG, que abrangeu mais de 600 dealmakers ativos de 35 geografias, confirmam os resultados do primeiro estudo internacional sobre este tema: a inclusão da dimensão ESG em processos de due diligence veio para ficar. 

Os investidores “líderes” vinculam o ESG ao investimento e retiram valor

 

O estudo realizado torna evidente que para a maioria dos entrevistados a vinculação do seu processo de decisão de investimento a fatores ESG permite aportar valor ao negócio, se devidamente ponderados diversos fatores:

•       Combinando um profundo entendimento dos riscos e oportunidades comerciais, operacionais e financeiros desencadeados pela evolução das regulamentações ESG e pelas expetativas das partes interessadas;

•       Utilizando as ferramentas como um baselining abrangente, planos de ação integrados de 100 dias e uma análise sistemática de fontes de financiamento para melhorar o desempenho das empresas alvo.

Essas melhorias de desempenho podem materializar-se na forma de aumento de receitas, redução de custos ou mitigação de riscos de um investimento, em várias áreas ambientais, sociais e de governance — normalmente em conexão com temas como descarbonização, reciclagem e circularidade, e gestão da cadeia de fornecimento. 

Existem desafios, mas as soluções começam a surgir

 

A maioria dos investidores reconhece a existência de diversas dificuldades na integração da dimensão ESG nos seus processos de due diligence.

Desde logo, na definição do âmbito a que deverá obedecer este processo – o qual reconhecem como devendo ser abrangente, mas ao mesmo tempo concretizável – mas também e, sobretudo, na capacidade de obtenção de dados de qualidade das empresas-alvo que permitam cobrir a totalidade do âmbito definido e quantificar os findings identificados.

A este respeito, parece tornar-se cada vez mais evidente que o foco de uma due diligence na dimensão ESG deverá mover-se da procura pela quantificação de riscos para a compreensão do valor que cada negócio poderá aportar à jornada ESG dos investidores – from “values” to “value”. Sobre a qualidade da informação e capacidade de através dela extrair conclusões que possam ser devidamente integradas em processos de tomada de decisão e valorização do investimento, reconhece-se a importância do papel que os vendedores e consultores do lado da venda poderão assumir na produção de informação ESG de maior qualidade, bem como a necessidade de, do lado do buyer, capitalizar sinergias evidentes que existem entre as vertentes de ESG, comercial e operacional.

Vários entrevistados referiram também como um dos principais desafios as constantes evoluções regulatórias em matérias ESG, com a introdução de diversas obrigações e tributos ambientais (como o CBAM ou a tributação sobre os plásticos), o que faz desta componente um fator a ter em consideração na devida ponderação da carga fiscal futura que poderá impender sobre os seus investimentos.

Estatísticas do Estudo

 

A análise completa ao estudo realizado encontra-se disponível aqui, e as suas principais estatísticas podem ser sumarizadas da seguinte forma:

  • quatro em cada cinco “dealmakers” afirmam que as considerações do ESG integram a sua agenda de M&A;
  • 55% dos inquiridos está disponível para pagar um prémio entre 1-10% por ativos com alta maturidade de ESG;
  • 45% dos inquiridos já encontrou aspetos materialmente relevantes como resultado de uma due diligence de ESG, sendo que metade destes referiu terem sido aspetos “deal stopper”;
  • Apesar de a maioria dos inquiridos considerarem que o tópico da transparência fiscal – entendido para este efeito como o nível de divulgação de informação fiscal de forma voluntária por parte das empresas – será relevante numa transação, apenas 28% considera que o mesmo deve ser incluído no âmbito de due diligence de ESG, ao passo que 62% dos inquiridos reconhecem a relevância do tópico, considerando no entanto que a sua avaliação deve ser parte do âmbito de outra workstream de due diligence;
  • Os investidores financeiros são mais propensos a considerar riscos e oportunidades de ESG do que os investidores corporativos, como forma de proteger e criar valor para o objeto do financiamento.