As tecnologias a que ainda chamamos emergentes, como por exemplo, IoT, 5G, impressão 3D e IA, prometem transformar os cuidados, que hoje se focam no tratamento da doença, para um modelo assente na gestão da saúde e do bem-estar e com uma maior participação de cada cidadão no seu percurso de vida. O envelhecimento acelerado dos países europeus, a prevalência de doenças crónicas e oncológicas, a escassez de recursos humanos no ecossistema da saúde, cria uma maior pressão sobre sustentabilidade e transparência nos sistemas de saúde, que apenas serão viáveis se existir uma arquitetura de referência para processos, tecnologias, dados e modelos de gestão com indicadores e avaliações alinhados para a jornada do cidadão e para os resultados em saúde.

Os modelos de prestação de serviços em diferentes setores de atividade é hoje “phygital” e este é também o modelo que cada vez mais observamos na saúde e o que cada cidadão hoje exige das instituições de saúde com as quais se relaciona, uma visão personalizada e contextualizada, independente do ponto de contato. Esta “Digital Front Door” na Saúde tem e deve garantir equidade no acesso aos cuidados em saúde e na promoção da saúde.

Se por um lado temos inovação e  tecnologias disponíveis e por outro temos as necessidades do setor cada vez mais acentuadas, como realizar o potencial da inovação no contexto alargado da saúde?

  1. Motivação e Retenção de Colaboradores: Capacitação de gestores, quadros intermédios e profissionais de saúde e programas de reconhecimento.
  2. Promover a literacia digital e em saúde na sociedade desde os primeiros anos de educação.
  3. Garantir uma arquitetura de processos, de sistemas de informação e empresarial , que conduzam a uma efetiva interoperabilidade de sistemas, tecnologias e dispositivos para obter dados de diferentes fontes e que possam ser utilizados, quer do ponto de vista primário (MyHealth@EU), quer do ponto vista secundário (HealthData@EU), seguindo o regulamento aprovado para o EHDS em abril de 2024 pelo Parlamento Europeu.
  4. Segurança da Informação e Certificação de sistemas, aplicações e dispositivos (terapias digitais), para que a confiança seja um elo fundamental entre cidadão, profissionais e instituições de saúde.
  5. Promover a cocriação de soluções inovadoras, que respondem a temas da sociedade, cruzando universidades, centros de investigação, incubadoras, instituições públicas, privadas e do setor social, farmácias, pagadores e empresas (digital, biotech, medtech) – ecossistema alargado da saúde.
  6. Investimento, com modelos alinhados por objetivos e indicadores focados em resultados de saúde.

Os sistemas e organizações de saúde estão a enfrentar desafios sem precedentes que exigem que os políticos, pagadores, prestadores e fornecedores repensem as suas operações. Estes desafios e pressões estão agora a manifestar-se em sinais de mudança que podem moldar a forma como os cuidados de saúde serão prestados e consumidos no futuro.

A saúde do presente e do futuro é científica e digital, mas deverá sempre ter humanização e empatia entre os profissionais de saúde e os seus utentes/doentes.  A capacidade de apostar na prevenção e na capacitação/responsabilização de cada cidadão, através de literacia, tecnologia e novos modelos de prestação de cuidados vai determinar o futuro de sociedades: maior longevidade, melhor qualidade de vida, mais produtivas/ricas e com mais felicidade (em alinhamento com os ODS) (World Health Organization (2021), International Global strategy on digital health 2020-2025).

Com modelos de financiamento e de investimento inteligente, regulamentação adequada e o envolvimento de todos — desde os cidadãos até aos profissionais —, estão criadas as condições para transformar Portugal numa verdadeira montra digital na área da saúde.

Artigo de Filipa Fixe, Director de Management Consulting, na Revista Gestão Hospitalar