Várias são as capitais europeias que já utilizam estas soluções para gerir alguns desafios no seu metabolismo urbano, como é o caso de Lisboa.

Pensar numa cidade pode trazer-nos memórias coloridas, verdes até, ou muito cinzentas, dependendo do grau de implementação de Nature Based Solutions (NBS). As NBS são abordagens baseadas na natureza, que se ligam com os recursos naturais e ecossistemas, com o intuito de resolver desafios ambientais, sociais e económicos, promovendo a resiliência, tanto do ser humano como da biodiversidade.

Várias são as capitais europeias que já utilizam estas soluções para gerir alguns desafios no seu metabolismo urbano, como é o caso de Lisboa, onde no seu Plano Diretor Municipal definiu estratégias para a sua estrutura ecológica, elencando como uma das prioridades a conexão de espaços verdes a partir da criação de corredores verdes. Estes corredores verdes são zonas nas cidades que permitem a circulação das espécies de forma a diminuir o impacto da urbanização, mas também permitem a regulação da temperatura e da humidade que afeta o bem estar da sociedade. Um dos melhores exemplos de Lisboa é o corredor verde principal que liga o Parque Florestal de Monsanto ao centro da cidade através do Parque Eduardo VII. Em relação ao Porto, uma das infraestruturas com maiores vantagens de NBS é o Terminal Intermodal de Campanhã (TIC), com 35 000m2 de área verde de diferentes tipologias, que tem como objetivo, entre outros, atenuar a zona fria que existe nesta localização da cidade. O TIC foi um dos destaques da conferência NBS Summit 24, tendo sido estudado pela KPMG, através da sua metodologia True Value, que permite quantificar o “real valor” para o ambiente e sustentabilidade destas soluções.

Segundo o estudo “Nature-Based Solution in Urban Areas: A European Analysis, 2022”, é possível verificar que na Europa estas soluções de corredores verdes são as mais implementadas, contando já com mais de 35 ações em curso, seguidas das coberturas e fachadas verdes. Por outro lado, as iniciativas ainda com menor adesão são os jardins urbanos entre edifícios, principalmente prédios, que contam apenas com seis ações, derivado muitas vezes da estratégia de urbanização aplicada. Além destas, as NBS também incluem iniciativas relacionadas com água, na Europa já são 20 as infraestruturas azuis citadinas com o objetivo de contribuir acentuadamente para a regulação da temperatura e da humidade.

Se analisarmos todos estes projetos e os cruzarmos com os desafios do metabolismo urbano de algumas cidades, podemos verificar que em várias cidades há diversos desafios relacionados com a sazonalidade associada ao turismo, que provoca maior pressão nos ecossistemas, excesso de tráfego que diminui a qualidade do ar, zonas muito quentes ou frias nas cidades quer ao nível da circulação pedonal quer habitacional, entre muitos outros, os quais podem ser atenuados com NBS. Isto porque, além dos benefícios já mencionados, estas iniciativas também conseguem alterar a qualidade do ar, ajudar na gestão da água, sequestrar carbono, aumentar o acesso a áreas verdes, aumentar o bem-estar das pessoas, criar lugares de lazer naturais, e que são sem dúvida, medidas essenciais para a qualidade de vida em cidades e um grande apoio ao bom funcionamento das mesmas.

Contudo, muitos são os desafios ainda para implementação das NBS nas cidades e em Portugal, começando pelas competências necessárias para desenvolver e manter este tipo de projetos até ao financiamento dos mesmos, mas efetivamente, é cada vez mais premente a gestão das nossas cidades, de forma mais próxima da natureza de maneira a garantir o seu equilíbrio e bem-estar das pessoas.

Artigo de Daniela Amorim, Manager de ESG, a 5 de junho de 2024 para o Capital Verde do jornal ECO.