O objetivo de atingir a neutralidade carbónica representa uma enorme oportunidade para as empresas de private equity criarem uma nova era de crescimento, criação de valor e retorno.

A transição global para a neutralidade carbónica representa uma das maiores transformações económicas desde a revolução industrial, que deverá estender-se a todas as economias, setores e empresas. Ajudará a transformar infraestruturas, culturas, comportamentos e fluxos de investimento e contribuirá para impulsionar a geopolítica, influenciar a regulamentação e incentivar mudanças significativas nas políticas. Não deixará de fora nenhuma empresa, ativo ou investimento.

Em muitos aspetos, representa, por isso, uma excelente oportunidade para o setor de private equity (PE). A tese fundamental das empresas de PE consiste em seguir os fluxos de investimento, identificar fontes de valor inexploradas e impulsioná-las, o que constitui uma tese particularmente sólida em tempos de profunda transformação e transição. Dada a profundidade e amplitude desta transição para a neutralidade carbónica, o setor de private equity deve estar prestes a entrar numa nova época.

É um risco crítico...

Atualmente, a maioria das empresas e dos gestores de fundos de PE começam a reconhecer que o risco climático é um risco financeiro. As empresas com sólidas credenciais ambientais, sociais e de governação (ESG) já estão a obter múltiplos sólidos, enquanto as que tardam em abandonar práticas empresariais com emissões mais elevadas estão a assistir a uma queda das valorizações. Espera-se que a adoção de uma série de novas regulamentações e normas nacionais e internacionais proporcione ainda mais transparência aos riscos reais relacionados com o clima que muitas empresas enfrentam. Os profissionais da KPMG constataram que alguns setores já estão a deparar-se com um clima de investimento difícil.

O que torna esta questão particularmente interessante para as empresas de PE são os prazos envolvidos. Normalmente, estas empresas pretendem criar valor e sair de um investimento num prazo de três a cinco anos, e seria seguro assumir que, num prazo de cinco anos, uma saída bem-sucedida teria de ser apoiada por uma via de descarbonização robusta e por dados que, mais do que intenções, demonstrassem progressos na sua implementação. Isso significa que as empresas de PE deveriam pensar, já hoje, na descarbonização e na via para a neutralidade carbónica.

Normalmente, estas empresas pretendem criar valor e sair de um investimento num prazo de três a cinco anos, e seria seguro assumir que, num prazo de cinco anos, uma saída bem-sucedida teria de ser apoiada por uma via de descarbonização robusta e por dados que, mais do que intenções, demonstrassem progressos na sua implementação. Isso significa que as empresas de PE deveriam pensar, já hoje, na descarbonização e na via para a neutralidade carbónica.

... e uma oportunidade significativa

Para os líderes de PE e os general partners (GP), seria fácil considerar a descarbonização como um risco e abordá-la apenas como uma questão de conformidade. Mas essa visão ignoraria as oportunidades significativas de criação de valor que poderiam ser alcançadas com uma abordagem mais estratégica e proativa da descarbonização.

A título de exemplo, as principais empresas de PE estão a interpretar os sinais políticos recentes – a Lei de Redução da Inflação ("Inflation Reduction Act") dos EUA, o Pacto Ecológico da União Europeia ou o plano REPowerEU – como indicadores de que os governos apoiam incondicionalmente a transição para a neutralidade carbónica. Tal contribuiu para reduzir o risco associado a determinadas classes de ativos e incentivou um volume significativo de fluxos de capitais para tecnologias emergentes e em expansão.

Essas empresas estão também a identificar o lado positivo das oportunidades de criação de valor relacionadas com a descarbonização ao nível do investimento e das empresas em carteira. Algumas empresas de PE estão a aderir a estas tendências, investindo em empresas que prestam assistência técnica a ativos de energias renováveis, por exemplo, ou que promovem a economia circular. Reconhecem que não são apenas os decisores políticos que estão interessados no ambiente – os consumidores também estão – e preveem que estas tendências contribuirão para um crescimento sustentável, independentemente de quais forem as condições gerais do mercado.

Não fique para trás

A pressão para adotar a descarbonização já está a influenciar a angariação de fundos para os GP. As nossas conversas com os principais GP sugerem que estes estão a dedicar cada vez mais tempo a responder a pedidos de limited partners (LP) para a comunicação de informações relacionadas com a descarbonização. Os LP nem sempre sabem exatamente o que é "bom", mas querem ter a certeza de que os seus GP estão a ponderar as questões de forma estratégica e proativa.

Por outro lado, as nossas conversas com os LP indicam que os investidores institucionais – fundos soberanos, fundos de pensões e outros grandes investidores – já estão a comparar a atividade dos seus GP nesta matéria e começam a canalizar os seus investimentos para as empresas que demonstram empenho na ação e na transparência. Por outras palavras, se os seus pares estão a fazer melhor, pode ter razões para se preocupar com a sua capacidade de angariação de fundos no futuro.

Os investidores institucionais – fundos soberanos, fundos de pensões e outros grandes investidores – já estão a comparar a atividade dos seus GP nesta matéria e começam a canalizar os seus investimentos para as empresas que demonstram empenho na ação e na transparência.

Adote uma abordagem holística

Independentemente da sua posição em relação aos seus pares, os líderes e os gestores de PE devem pensar na descarbonização a partir de diferentes perspetivas. Esta abordagem aplica-se a nível dos fundos, nas empresas individuais em carteira e mesmo no momento do investimento.

A nível dos fundos, os GP devem refletir de forma crítica sobre onde pretendem atuar e o impacto que essa ação terá na composição dos seus fundos. Alguns podem decidir diferenciar-se como líderes em tecnologias de descarbonização. Outros podem optar por centrar-se em ajudar as indústrias que se encontram na mira desta transição, como a siderurgia, a exploração mineira e os recursos, a acelerar a sua via para a neutralidade carbónica. Outros ainda podem optar por privilegiar a criação de alfa. Seja como for, há que fazer escolhas. Poderá ser necessário criar exclusões e estabelecer prioridades para os setores.

No momento do investimento, os líderes e os gestores de PE devem certificar-se de que as suas equipas de investimento estão a exercer um dever de diligência devida sólido em matéria de ESG e de clima, com especial incidência nas emissões de carbono e nos planos de descarbonização. Em seguida, devem transpor cuidadosamente essas conclusões para os impactos nas demonstrações financeiras, tanto durante o período de detenção como no momento da saída. O que poderá parecer uma excelente oportunidade de investimento com base nos dados financeiros atuais pode, em última análise, vir a ser um ativo irrecuperável se os planos de descarbonização de outros intervenientes tornarem o ativo obsoleto. O exercício de um dever de diligência sólido em matéria de ESG não só detetaria estes riscos como também revelaria futuras oportunidades de criação de valor suscetíveis de aumentar o valor do ativo a longo prazo. O importante é fornecer ao seu comité de investimento os dados adequados com o devido nível de pormenor, a fim de permitir decisões de investimento inteligentes a longo prazo.

Ao nível das empresas em carteira, os executivos de PE devem começar a avaliar os planos de descarbonização dos seus ativos e a procurar oportunidades para criar valor adicional, alinhando as atividades e as operações no sentido da descarbonização. A capacidade de um gestor de ativos para promover a mudança pode depender, em grande medida, do seu nível de controlo – por exemplo, a capacidade dos gestores de PE para promover a mudança num ativo em fase inicial será provavelmente reduzida, uma vez que a maioria tende a adquirir apenas um pequeno volume de participações em empresas em fase inicial. No entanto, tendo em conta os prazos curtos preferidos pelos investidores de PE, a maioria dos gestores deve agir rapidamente para identificar e aproveitar oportunidades de criação de valor na descarbonização.

O que poderá parecer uma excelente oportunidade de investimento com base nos dados financeiros atuais pode, em última análise, vir a ser um ativo irrecuperável se os planos de descarbonização de outros intervenientes tornarem o ativo obsoleto. O exercício de um dever de diligência sólido em matéria de ESG não só detetaria estes riscos como também revelaria futuras oportunidades de criação de valor suscetíveis de aumentar o valor do ativo a longo prazo. O importante é fornecer ao seu comité de investimento os dados adequados com o devido nível de pormenor, a fim de permitir decisões de investimento inteligentes a longo prazo.

Três etapas para o sucesso

O trabalho coletivo dos profissionais da KPMG com executivos de PE, GP, gestores e os respetivos LP indica que as empresas líderes estão a progredir rapidamente nas suas estratégias de descarbonização e de neutralidade carbónica. Em termos gerais, estão a centrar o seu trabalho em três etapas principais:

three steps

Está ao seu alcance

Uma coisa é certa: as empresas de PE têm o poder e o capital para influenciar mudanças significativas muito para além dos seus investimentos e ativos individuais. O setor de private equity pode desempenhar um papel fundamental na promoção de novas ideias e de novas tecnologias. Poderá ajudar a tirar partido do valor e dos benefícios futuros da descarbonização, contribuir para uma liquidação ordenada e responsável de empresas e setores insustentáveis, ajudar a acelerar os planos de transição e as vias de descarbonização das empresas viáveis e ajudar a promover uma mudança real e significativa. A via para a neutralidade carbónica pode ser uma oportunidade decisiva para o setor de PE – o início de uma nova época de crescimento e de criação de valor. Aguardamos com expectativa a reação das empresas e dos gestores de PE.

Private equity: o caminho para a neutralidade carbónica

Uma nova época está a emergir.



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