Eis como os principais gestores de ativos estão a preparar-se para os tempos que se avizinham.

Vivemos momentos interessantes. Os bancos centrais estão a aumentar as taxas de juro de forma agressiva. Nunca, desde que há memória, os mercados de ações e os mercados de obrigações se afundaram ao mesmo tempo. Há décadas que a confiança dos investidores não era tão baixa.

No entanto, o que torna a situação atual um desafio é o facto de tudo isto estar a acontecer no contexto de um enorme esforço global para reestruturar a economia mundial de modo a torná-la mais ecológica e mais equitativa. Se acrescentarmos o poder disruptivo de algumas das modernas tecnologias emergentes (em especial, a IA generativa), bem como as perturbações causadas pela turbulência geopolítica, torna-se evidente que os princípios fundamentais do mercado estão sob uma pressão considerável.

O impacto no setor da gestão de ativos tem sido significativo. A inflação elevada e as expectativas de uma recessão fizeram baixar as avaliações dos ativos. Este facto, associado a uma clara transferência de fundos para contas de caixa e depósitos, sugere que os ativos sob gestão do setor estão a diminuir, o que, para muitos gestores, significa que as comissões de gestão estão sob pressão.

Os investidores estão inquietos. As empresas e os particulares com quem os profissionais da KPMG conversam – por exemplo, investidores institucionais, fundos soberanos, pessoas com elevado património líquido e agências de consultoria e gestão patrimonial (family offices) – afirmam estar a atravessar uma crise de confiança e estão a aproximar-se dos gestores que já conhecem e em quem confiam. Procuram a segurança dos fundos do mercado monetário, dos fundos com proteção de valor e dos investimentos no mercado privado. Não só querem transparência como também se preocupam, cada vez mais, com o impacto que os seus investimentos têm no mundo.

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Unprecedented measures

Asset management in the age of uncertainty



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Identificar oportunidades

Alguns gestores de ativos podem considerar este período como um risco enorme, enquanto outros o encaram como uma oportunidade. No entanto, as oportunidades podem afigurar-se bastante diferentes consoante o lado da gama de ativos sob gestão em que se intervém.

Para os intervenientes de maior dimensão, a crise de confiança dos investidores traduziu-se em fluxos de entrada constantes. Estes intervenientes estão a orientar-se em função da procura do mercado e das tendências recentes, centrando-se, em especial, em investimentos em ETF e no mercado privado. Mas também estão a usar o seu peso e a sua dimensão para desenvolver novas ofertas e ampliar capacidades, antecipando com frequência as tendências dos investidores, graças a análises e dados sofisticados e à abundância de capital para investir.

Os intervenientes de menor dimensão podem deparar-se com mais dificuldades para angariar fundos, mas também beneficiam de excelentes oportunidades para se destacarem na atual reorganização do mercado. Os investidores procuram um serviço personalizado, pretendem capacidades especializadas e esperam que o seu dinheiro seja investido com base em objetivos e valores. Os pequenos gestores e os que operam em setores de nicho podem, com a concentração e o esforço certos, criar uma proposta de valor atraente para os investidores.

O que esperar deste cenário de mudança?

A maioria dos gestores de ativos parece reconhecer que a sua atividade está em profunda disrupção. Não se trata de uma anomalia económica de curto prazo nem de algum tipo de correção do mercado. Os princípios fundamentais do setor da gestão de ativos estão a mudar. A necessidade de novas ideias e de novos modelos nunca foi tão urgente.

Confiar na tecnologia

Embora esta possa parecer uma combinação de prioridades complexa, a tecnologia já está a desempenhar um papel facilitador, em especial ao permitir que os gestores se aproximem mais dos seus clientes, inovem a sua oferta de produtos e assegurem a transparência.

Os gestores de ativos de retalho, por exemplo, estão a explorar oportunidades de toquenização de ETF utilizando tecnologias de blockchain, quer para tornar os seus produtos mais acessíveis quer para se aproximarem mais dos clientes (a toquenização permite aos gestores eliminar os intermediários). Do mesmo modo, os intervenientes no setor imobiliário também estão a avaliar a possibilidade de toquenizar as suas carteiras de ativos, e os hedge funds já começam a considerar os ativos digitais como uma classe de ativos apetecível para investir.

A tecnologia também permite que as empresas de gestão de ativos mais inovadoras criem novos fluxos de receitas e consolidem os já existentes. Nos últimos meses, em particular, um número crescente de gestores de ativos tem vindo a colocar no mercado as suas ferramentas e plataformas internas sob a forma de um serviço, e os gestores de ativos de menor dimensão estão a utilizar estas tecnologias para se concentrarem na criação dos melhores projetos para os seus clientes ao melhor preço.

Cinco etapas para o futuro

A experiência adquirida pelas firmas membro da KPMG no âmbito do seu trabalho conjunto com gestores de ativos para avaliar os futuros modelos de negócio, modelos operacionais e propostas de valor sugere que há cinco aspetos em que os gestores de ativos podem começar a trabalhar desde já para se prepararem para as mudanças que se avizinham num futuro muito próximo.

Conheça os seus clientes

As necessidades e as expectativas dos clientes estão a mudar rapidamente, tal como os seus objetivos de investimento. Pondere de que modo pode aproximar-se dos seus clientes – talvez colaborando mais estreitamente com os intermediários para apresentar estratégias personalizadas (ou eliminado por completo alguns intermediários) – a fim de melhor identificar e prever tendências futuras. Pense nos tipos de produtos e soluções que os seus clientes poderão querer no futuro, bem como na forma como quererão interagir com os seus gestores de ativos e no tipo de informações de que poderão necessitar.


Articule os seus valores e objetivos

As alterações climáticas constituem um dos maiores desafios do mundo, e os gestores de ativos estão talvez numa posição única para, através das suas decisões de investimento, produzirem um impacto no mundo real e promoverem mudanças positivas, ajudando as empresas em que investem a reduzir a sua pegada ambiental e a desenvolver soluções e produtos mais ecológicos. Aqueles que articulam os seus objetivos com a sociedade e os investidores podem diferenciar-se num mercado altamente competitivo e baseado em valores.



Comunique continuamente

A comunicação é um fator essencial para a prossecução de objetivos e a centralização no cliente. Longe vão os dias das comunicações trimestrais aos investidores e dos relatórios de conformidade. Atualmente, os principais gestores de ativos mantêm uma comunicação contínua com os seus stakeholders sobre um vasto leque de temas, o que os ajuda a reforçar a confiança junto dos seus clientes, dos seus funcionários e das entidades reguladoras. Os últimos meses demonstraram que, quando necessário, a existência de uma comunicação clara, aberta e transparente entre as empresas, os gestores e os seus investidores pode ser fundamental para gerir uma crise.

Reavalie o seu modelo de negócio e o seu modelo operacional

A mudança de expectativas dos clientes e a diminuição das margens estão a exercer pressão sobre os atuais modelos de negócio, o que, em conjugação com uma clara tendência para produtos e serviços baseados no valor e centrados no cliente, aponta para a necessidade de novos modelos de negócio. Ao mesmo tempo, os gestores de ativos devem procurar oportunidades, possivelmente através da tecnologia, dos processos ou da externalização, para melhorar a eficiência operacional e a flexibilidade do modelo operacional.



Explore as tecnologias

Desde oportunidades de utilização das tecnologias para aumentar a eficiência operacional e melhorar a relação com os clientes até ao aparecimento de novas oportunidades de investimento e potenciais fluxos de receitas, as tecnologias podem, no contexto atual, proporcionar um valor significativo aos gestores de ativos. Analise cuidadosamente a intersecção entre as tecnologias, a cultura e as pessoas, a fim de garantir que os investimentos tecnológicos estão a criar um impacto e valor positivo, tanto para os clientes como para os funcionários. Compreenda o seu modelo da situação futura e comece a desenvolver o seu roteiro tecnológico para o atingir.

Estabelecer um novo precedente

Tempos sem precedentes exigem medidas sem precedentes. Os gestores de ativos não devem limitar-se a manter o statu quo e esperar superar esta disrupção. A única forma de prosperar no ambiente macroeconómico, geopolítico e social em rápida mutação é começar a empreender mudanças radicais. Na opinião da KPMG, aqueles que colocarem o valor, os clientes e os objetivos no centro dessas mudanças posicionar-se-ão provavelmente entre os mais competitivos.