“O futuro da profissão passa pelo perfil do Auditor 4.0”
“O futuro da profissão passa pelo perfil do Auditor 4.0
Ao apontar o reforço da confiança e a transformação digital como os maiores desafios para as empresas de auditoria, a KPMG muda o perfil do auditor. Nesta entrevista, Vitor Ribeirinho, Deputy Chairman em Portugal, explica porquê.
Quais os principais desafios para as empresas de auditoria?
Na KPMG estamos empenhados em implementar medidas que fortaleçam o princípio de sermos a clear choice das nossas pessoas, dos clientes e do mercado. Atentos a este objectivo, os maiores desafios assentam no reforço da confiança e na transformação digital.
A questão da confiança é fundamental. O princípio de public trust, que analistas e mercado tanto debatem, não só tem que estar no topo das nossas prioridades, como tem que ser visível em tudo o que fazemos com os clientes e reguladores. Este compromisso tem vindo a ser consolidado através da melhoria da qualidade do trabalho, do esforço permanente de adequação das equipas à dimensão dos clientes, bem como de um forte investimento na revisão da nossa metodologia e nas ferramentas disponibilizadas aos nossos profissionais.
Como definem a qualidade?
Para nós, qualidade é o resultado de auditorias executadas de forma consistente, alinhadas com os requisitos e padrões aplicáveis à profissão, num contexto de sistemas de controlo de qualidade robustos. Adicionalmente, procuramos que todas as actividades relacionadas que levamos a cabo sejam executadas em linha com os mais elevados níveis de objectividade, independência, ética e integridade. Esta mensagem é clara e partilhada por todos internamente.
Quais os desafios associados à transformação digital?
A KPMG Portugal é hoje uma referência na rede global em matéria de inovação. Através dos activos em que as nossas equipas têm vindo a trabalhar, somos reconhecidos pelo nosso contributo para transformar a profissão e com isso torná-la mais atractiva. Este investimento em inovação está a revolucionar a forma como trabalhamos e os perfis que procuramos. Hoje não procuramos perfis clássicos, focados essencialmente no conhecimento técnico das normas, procuramos o que designamos Auditores 4.0.
O que é um Auditor 4.0?
O futuro da profissão passa também pela transformação das pessoas e por isso um novo perfil requer uma designação diferente. O nosso trabalho está, cada vez mais, suportado em sistemas de Data & Analytics, automação e Inteligência Artificial. Estas novas dimensões requerem novos perfis de talento. Consideramos que Auditor 4.0 traduz o perfil que nos levará daqui para a frente, em linha com os desenvolvimentos da 4ª Revolução Industrial. É um perfil de talento sofisticado, com conhecimentos contabilísticos e financeiros sólidos, mas digital native, apaixonado por inovação e com uma apurada curiosidade intelectual. No século XXI, não podemos trabalhar com a mentalidade do século XX.
O que destaca na transformação da Auditoria que está a acontecer na Europa e particularmente em Portugal?
A KPMG Portugal não se limita a recolher da rede global os produtos ou activos que vão sendo disponibilizados. A nossa dimensão não inibe a nossa ambição. Estamos, naturalmente, alinhados com a rede global nos grandes investimentos que estão a transformar a função, mas somos parte activa do processo, quer ao nível do desenvolvimento da nossa nova metodologia de auditoria, cuja implementação se inicia este ano, quer de ferramentas específicas de automatização e Data & Analytics.
Esta nova metodologia de auditoria representa um salto qualitativo e de inovação, em resultado da centralização, numa única plataforma tecnológica, de todos os componentes do workflow de auditoria. Isto permitirá estender as capacidades de análise, obter evidências de auditoria aperfeiçoadas e ter uma visão mais transversal dos riscos da actividade e do reporte financeiro dos clientes. Estas inovações serão grandes contributos para a confiança do mercado em relação ao papel dos auditores em geral e especificamente sobre a KPMG.
Que outras iniciativas na KPMG foram determinadas pelas novas regras em Auditoria?
Com a Reforma da profissão tornou-se necessário redefinirmos a estratégia e o posicionamento no mercado. Mas este desafio foi uma oportunidade de transformar a relação com os clientes e com o mercado. Partimos para este processo com uma posição privilegiada em termos de quota de mercado em Auditoria, o que podia não ser uma vantagem. Mas este novo dinamismo também nos permitiu ganhar novos clientes em Auditoria e, em paralelo, desenvolver a área de Assurance, o que alargou a base de clientes, bem como o desenvolvimento de novos produtos que juntam as nossas melhores competências multidisciplinares de Auditoria, Fiscalidade e Consultoria.
O sector onde esta transformação da oferta é mais evidente e bem-sucedida é no sector financeiro, em que a rotação obrigatória de auditores, embora tenha diminuído o número e dimensão de bancos que auditamos, foi compensada com a prestação de serviços pelas outras áreas de negócio.
O sector ganhou de facto mais segurança com a Reforma Europeia?
A Reforma trouxe uma nova dinâmica ao mercado e clarificou o papel dos intervenientes: conselhos de administração, órgãos de supervisão, auditores, reguladores, entre outros. Há mais escrutínio e isso é positivo. As alterações à estrutura dos relatórios de auditoria também introduziram melhorias. A notoriedade que a profissão adquiriu é uma oportunidade para clarificar o papel do auditor e para um aumento da importância conferida ao que está escrito nos relatórios. Há ainda um caminho a percorrer, em conjunto com os reguladores. Se não trabalharmos em conjunto, nunca conseguiremos melhorar de forma significativa os níveis de confiança no sistema.
O que há a fazer para melhorar o processo de Auditoria? Quais as prioridades para a KPMG?
A KPMG está a implementar um programa diferenciador, atendendo à sua amplitude e ambição, denominado ‘Transformação Global da Qualidade da Auditoria’. O caminho de melhoria é contínuo, mas sinto-me encorajado pelo reconhecimento que o mercado faz do nosso trabalho. Estamos seguros do trabalho desenvolvido e confiantes em relação ao futuro.
Em que consiste o Programa Global de Transformação da Qualidade de Auditoria?
Em traços gerais, o programa assenta em dez pontos:
- Redesenho e implementação de um sistema globalmente consistente de controlo de qualidade em toda a rede, alinhado com o International Standard of Quality Management (ISQM 1);
- Implementação, em todas as firmas membro, dos workflows e da nova metodologia de Auditoria;
- Introdução de um framework mandatório de accountability, globalmente consistente;
- Centralização e reforço dos recursos das áreas técnicas e de controlo, melhorando a consistência global;
- Definição de padrões de performance, globalmente consistentes, para os nossos controlos de qualidade;
- Redesenho da função de suporte de IT Compliance, de forma a assegurar consistência global em todas as auditorias a Entidades de Interesse Público de alto risco;
- Desenho e implementação de uma segunda linha de defesa e de um programa de coaching globalmente consistente.
- Implementação de um conjunto globalmente consistente de indicadores de qualidade da auditoria (Audit Quality Indicators).
- Redesenho da abordagem global de programas de formação em auditoria, de forma a assegurar maior consistência.
- Fortalecimento da monitorização da eficácia dos sistemas de controlo de qualidade e performance das firmas membro.
A estratégia da KPMG para Auditoria
Entrevista originalmente publicada no Especial Auditoria, distribuído com o jornal Expresso de 30 de Março de 2019.
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