Estamos entrando em uma era de transformação que remodelará setores, economias e dinâmicas de poder global em um ritmo sem precedentes. Os próximos cinco anos trarão mais mudanças do que os últimos 30, impulsionadas pela convergência de fatores que estão redefinindo todos os setores desse cenário competitivo.
O relógio está correndo e a vantagem competitiva passa a ser determinada não pela estabilidade, mas pela capacidade de adaptação.
O estudo “Futures Report 2025”, da KPMG, indica caminhos estratégicos para quem ocupa posições de liderança. Mais do que um relatório de tendências, trata-se de uma ferramenta de tomada de decisão em tempos de disrupção – uma bússola para líderes que precisam antecipar movimentos, redesenhar rotas e investir de forma inteligente.
Não se trata de prever o futuro com exatidão, mas de reconhecê-lo antes dos demais e de agir de modo a aproveitar as oportunidades.
Da reação à ação: um novo papel para a liderança
Por muito tempo, o papel da liderança foi reagir: adaptar-se a mudanças, responder a crises, minimizar riscos. Agora, a disrupção exige o oposto. É hora de antecipar, planejar, investir e moldar o que ainda está por vir. A análise da KPMG estrutura essa abordagem a partir da análise de sinais precoces, que revelam como a inovação se manifesta: inicialmente, é um tipo de “pressão sutil”; depois, uma mudança inevitável.
A base metodológica do estudo é a estrutura Social, Technological, Economic and Political (STEP), que permite identificar como as forças convergem, quais tendências emergem e de que maneira isso afeta os horizontes de decisão. O resultado é um mapa claro, orientado por dados e pela inteligência de sinais, que transforma complexidade em ação prática.
Sete áreas que moldarão o mundo
Entre os destaques do relatório estão sete campos-chave que reúnem riscos e oportunidades em igual medida, exigindo posicionamento estratégico desde já:
- Superinteligência Artificial (ASI): a inteligência artificial (IA) já deixou de ser uma ferramenta para se tornar um agente. O avanço de modelos multimodais e de sistemas autônomos redefine a arquitetura tecnológica das empresas. O desafio agora não é apenas adotar IA, mas governá-la com responsabilidade.
- Infraestrutura Computacional: o crescimento exponencial do uso de IA pressiona data centers, redes e cadeias de suprimentos. A infraestrutura, antes vista como custo, passa a ser diferencial competitivo, especialmente quando estiver apoiada por eficiência energética e estratégias multicloud.
- Computação Quântica: ainda em estágio inicial, a computação quântica já começa a impactar setores como finanças, saúde e logística. O salto tecnológico é inevitável. A pergunta é: sua organização está se preparando agora ou esperando ser surpreendida?
- Economia Espacial: o espaço deixou de ser território exclusivo de governos. Com foguetes reutilizáveis e satélites miniaturizados, a indústria privada ganha protagonismo, ampliando as fronteiras para negócios em comunicações, segurança, clima e dados geoespaciais.
- Ativos Digitais: criptoativos e blockchain ganham cada vez mais relevância na infraestrutura financeira. A regulação avança e, com ela, cresce a pressão para que empresas compreendam e incorporem a tokenização de valor às suas estratégias.
- Resiliência Ambiental: não é mais possível separar clima e negócios. A volatilidade climática impacta diretamente a continuidade operacional. Líderes estão reagindo com microrredes, modelos baseados em IA, planejamento climático e metas de carbono. Além da responsabilidade socioambiental que diferentes stakeholders exigem das empresas, essas questões são uma necessidade estratégica.
- Manufatura Avançada: a reindustrialização ganha tração com apoio de políticas públicas, avanços tecnológicos e reconfiguração geopolítica. O modelo offshore, intensivo em mão de obra, dá lugar a fábricas inteligentes, com uso intensivo de capital, IA e automação.
Decidir exige coragem
Os números impressionam: US$ 279 bilhões é o valor estimado do mercado de IA em 2024, com projeção de crescimento de quase 36% ao ano até 2030. A demanda energética de data centers deve crescer 160% no mesmo período. Startups de computação quântica captaram US$ 1,5 bilhão em capital de risco apenas em 2024.
Esses dados sinalizam mais do que tendências: são alertas para quem ainda hesita em se mover.
O verdadeiro risco não está na inovação em si, mas na inércia. Esperar demais pode custar caro em vários aspectos, incluindo competitividade, reputação e relevância.
Além disso, não há como controlar a velocidade das transformações, mas é possível decidir como enfrentá-las. O momento atual exige líderes com visão, capacidade de leitura de cenário e disposição para agir.
Tomar decisões exige coragem, mas é necessário – e o uso de dados pode ajudar a decidir de maneira mais informada e segura. Uma coisa é certa: quem assumir o protagonismo hoje terá não apenas mais chances de sobreviver à próxima década, mas de liderá-la.
Por André Coutinho, sócio-líder de Consultoria da KPMG no Brasil e na América do Sul, e Jubran Coelho, sócio-líder de Consultoria em Inovação da KPMG no Brasil
André Coutinho
Sócio-líder de Consultoria da KPMG no Brasil e na América do Sul
Jubran Coelho
Sócio-líder de Consultoria em Inovação da KPMG no Brasil