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O relatório “EVA – Setor Elétrico – 2017 a 2023”, publicado pela KPMG em parceria com o Instituto Acende Brasil, analisa a rentabilidade econômica das principais empresas do setor elétrico no Brasil.

O estudo tem como base o cálculo do Valor Econômico Agregado (EVA), métrica que compara o retorno operacional obtido com o custo de capital investido. A amostra considera 48 companhias com receita anual superior a R$ 500 milhões.

O objetivo é entender se o setor gerou valor real para investidores. Para isso, o EVA é analisado a partir de dados financeiros e parâmetros regulatórios da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), como o Custo Médio Ponderado de Capital (WACC, do inglês Weighted Average Cost of Capital) definido anualmente.

Os dados revelam um cenário desafiador: entre 2017 e 2023, o EVA acumulado do setor elétrico foi de R$ 108,9 bilhões negativos. O retorno médio ficou abaixo do custo de capital regulatório.

O lucro operacional líquido após impostos (NOPAT, do inglês Net Operating Profit After Taxes) apresentou crescimento médio de 12% ao ano, impulsionado por fatores como inflação elevada, alta no consumo e aumento do preço da energia.

O capital investido também avançou no período (CAGR de 7%), com destaque para os anos pós-pandemia, especialmente 2022, quando houve uma ampliação expressiva de investimentos por um player importante do mercado.

No entanto, esse aumento de capital não resultou, na mesma medida, em crescimento do retorno operacional. O impacto é sentido diretamente no cálculo do EVA, que permanece negativo. 

Outro ponto de destaque é a comparação entre Retorno sobre o Capital Investido (ROIC, do inglês Return on Invested Capital) e o WACC. Em todos os anos, o ROIC ficou abaixo do custo de capital regulatório.

Em 2023, por exemplo, o ROIC foi de 9,78%, enquanto o WACC médio dos segmentos de geração, transmissão e distribuição ficou em 11,65%. O spread negativo indica degradação de valor.

A constatação reforça a necessidade de revisões periódicas na metodologia regulatória. Os atuais parâmetros de remuneração nem sempre refletem os riscos e a realidade do setor.

Antes de avançar com novos marcos regulatórios e investimentos, é essencial avaliar com precisão o equilíbrio entre risco, retorno e custo do capital no setor elétrico.

Ajustes regulatórios no setor elétrico

O estudo indica que, mesmo com avanços em eficiência e expansão da capacidade instalada, o setor elétrico brasileiro ainda enfrenta entraves para gerar valor sustentável aos investidores.

A recorrência de EVAs negativos acende um alerta sobre a efetividade do modelo atual. O desafio está em encontrar um ponto de equilíbrio entre regulação, retorno e atratividade econômica.

Considerando a relevância do setor para a transição energética e para a segurança do fornecimento, o debate sobre remuneração, riscos e investimentos precisa ganhar centralidade – e o relatório contribui significativamente para esse debate, fornecendo dados técnicos e insights que podem orientar futuras decisões.

No cenário atual, garantir a viabilidade econômico-financeira do setor elétrico é fundamental para a manutenção dos serviços, a atração de novos investimentos e o fortalecimento da segurança energética do país.


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