A inovação tecnológica continua avançando a passos largos. Desde a inteligência artificial generativa (GenAI) até a computação quântica, o progresso e o espectro de aplicação dessas novas tecnologias crescem diariamente, a taxas que são difíceis de quantificar para as empresas. Como consequência, as organizações enfrentam um dilema ou trade-off constante em suas decisões de investimento tecnológico, o que coloca frente a frente duas escolhas opostas.

Por um lado, entendem que precisam inovar continuamente para se manterem relevantes para seus clientes e grupos de interesse, o que está associado ao que socialmente se denomina como “Fear of Missing Out (FOMO)”, ou “medo de perder algo”. Por outro, estão cientes dos custos que a incorporação dessas novas ferramentas pode gerar sobre estruturas e processos estabelecidos, caso a decisão seja apressada ou essas tecnologias sejam aplicadas de maneira indiscriminada, apenas para copiar o que os outros estão fazendo.

Essas são algumas das conclusões apresentadas na última edição do relatório anual “KPMG Global Tech Report[1], que colheu opiniões de mais de 2.500 profissionais da área de tecnologia ao redor do mundo (quase um terço das Américas), cujas atividades estão distribuídas em uma ampla variedade de setores, especialmente os serviços financeiros, a indústria tecnológica e o varejo.

De maneira geral, três números globais podem ser extraídos do relatório para ilustrar o sucesso que as empresas estão alcançando com seus investimentos em tecnologia. Expressivos 87% dos entrevistados relataram ter obtido maiores benefícios como resultado desses investimentos, o que representou um aumento de 25 pontos percentuais em relação a 2023. Além disso, dois terços dos líderes entrevistados (66%) afirmaram estar satisfeitos com o valor gerado por esses investimentos. Por fim, 74% destacaram ter implementado corretamente a inteligência artificial (IA) em seus negócios.

No entanto, um dos principais pontos de discussão do estudo foi a grande proporção de líderes participantes que afirmaram sentir que estão “lutando” para acompanhar o ritmo das mudanças (78%), o que lhes gera uma sensação quase permanente de “ficar para trás” em relação aos concorrentes. Seria lógico pensar que, devido aos benefícios derivados dos investimentos em tecnologia realizados no passado e ao “entusiasmo” com a perspectiva de seguir aproveitando esses resultados, essa sensação poderia levar as organizações a tomar decisões precipitadas ou mal-informadas. Porém, os resultados do relatório de 2024 mostram que os líderes estão agora mais conscientes e estratégicos em suas escolhas, sem perder de vista as tendências seguidas por seus pares no mercado.

De fato, segundo os resultados do estudo, espera-se que os líderes do setor passem a basear suas decisões de investimento sobretudo em evidências primárias (ou geradas internamente), apoiando-se também em uma gama mais ampla de fontes de informação. Essa conclusão está diretamente relacionada ao fato de que, em comparação ao relatório anterior (2023), todos os chamados “drivers” de investimento (isto é, decisões orientadas por terceiros, incluindo reguladores; testes internos e provas de conceito; a propensão a copiar a concorrência; o retorno sobre o investimento; e/ou os custos de implementação, entre outros) experimentaram um aumento médio de 15 pontos percentuais.

Entre os principais fatores de decisão, destacam-se a orientação de terceiros (em primeiro lugar) e os testes internos e provas de conceito (segundo lugar), enquanto o fator que ocupava a primeira posição em 2023 (copiar a concorrência) foi deslocado para o terceiro lugar.

Como resultado, a mudança de enfoque nas decisões de investimento está aumentando o valor gerado pela tecnologia no ambiente empresarial, o que leva os líderes tecnológicos a compreenderem a importância de priorizar iniciativas tecnológicas com base em seu valor para o negócio. Essa abordagem foi destacada pelos executivos como um fator determinante para que as organizações prosperem na economia digital atual. Nesse sentido, o estudo enfatizou que as organizações com melhor desempenho serão, de fato, aquelas que tiverem a capacidade de alinhar sua carteira de investimentos em tecnologia aos seus objetivos de longo prazo (53% dos entrevistados avaliaram dessa forma).

Além disso, em contraste com o que foi mencionado no primeiro parágrafo, a capacidade de quantificar o valor das decisões de investimento em tecnologia e medir seu impacto tornou-se crucial. Essa habilidade permite realizar comparações entre diferentes opções de investimento e revela o valor real dessas escolhas, eliminando o “entusiasmo desmedido” por aderir a uma tendência cujo resultado é desconhecido.

Isso está sendo possível graças à maturidade no uso dos dados: mais da metade dos entrevistados (52%) se definiu como proficiente ou altamente capaz de fazer um uso eficaz dos dados, representando um aumento de 12 pontos percentuais em relação a 2023 (40%).

Os dados, que têm sido um fator decisivo na transformação digital das empresas, hoje representam um diferencial absoluto na geração de valor confiável para os investimentos em tecnologia.

Em particular, é promissor observar que 35% dos entrevistados estão focados em melhorar a proteção de seus dados e que mais de 30% estão priorizando sua acessibilidade, democratização e governança. Esses esforços estão relacionados não apenas ao uso ético e regulamentar dos dados, mas à nova panaceia tecnológica: a inteligência artificial (IA).

A esse respeito, os resultados mostraram que quase três quartos das organizações estão gerando valor comercial a partir de seus investimentos em inteligência artificial (IA), embora apenas uma em cada três consiga de fato escalá-la com sucesso para produção. Ao mesmo tempo, o relatório destacou que não se pode ignorar a ansiedade que a IA está gerando na força de trabalho, com 78% dos líderes preocupados com a possibilidade de seus usuários perceberem essa tecnologia como uma "caixa preta". Além disso, 77% temem que não consigam separar as capacidades da IA dos desafios que ela apresenta, em especial no que diz respeito à sempre presente redução de postos de trabalho e à sua inegável associação com diversas preocupações éticas. Claramente, há espaço para melhorias.

Apesar disso, os especialistas garantem que é possível desbloquear um valor sustentável, bem-sucedido e duradouro para os investimentos tecnológicos. Para isso, o estudo conclui que os líderes devem adotar rigor, criar consenso e, sobretudo, impulsionar uma agenda confiável de transformação baseada em IA dentro de suas organizações.

Estamos confiantes de que os resultados do relatório deste ano (2025) transformarão esses “desejos” em realidades, confirmando assim um progresso sólido e uma integração cada vez mais eficiente dessas tecnologias na estratégia e na operação de todas as empresas.   

[1] KPMG. Relatório global sobre tecnologia 2024 da KPMG. Além da propaganda exagerada: Equilibrando velocidade, segurança e valor. KPMG, 2024.


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