A despeito dos esforços em andamento, a sustentabilidade ainda não se estabeleceu como um caminho “natural” – o resultado disso é que a conservação ambiental e até mesmo as questões sociais continuam distantes do ideal. Segundo uma pesquisa sobre sustentabilidade da KPMG, menos da metade das empresas atualmente reconhece a perda por redução ao valor recuperável de ativos como um risco para o negócio. A UN Biodiversity Conference (COP 15) reuniu governos de todo o mundo para estipular um novo conjunto de metas para refrear e, se possível, reverter os danos à natureza e a perda de biodiversidade. Na ocasião, formou-se uma estrutura focada na elaboração de um plano de execução de medidas amplas, que induzam a uma transformação das relações da sociedade com a natureza. Dessa forma, até 2050, haverá uma visão comum a respeito de como viver em harmonia com o meio ambiente.

Para entender melhor os pontos da COP15, realizada em Montreal, Canadá, contaremos com os insights de David Greenall, Global Managing Director, Climate Risk, Decarbonization & Resilience da KPMG International; Carolin Leeshaa, Natural Capital and Biodiversity Global Leader da KPMG International; e Orlaith Delargy, Biodiversity lead EMA  da KPMG na Irlanda.

Carolin, você poderia explicar o que é COP15 e como a Conferência se diferencia da COP27?

Carolin

Para entender a gênese da Conferência das Partes, isto é, das COPs, precisamos retroceder o relógio 30 anos para a Cúpula da Terra, realizada em 1992, no Rio de Janeiro. Ali nasceram  três convenções: a United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCC), para o enfrentamento das mudanças climáticas; a Convention on Biological Diversity (CBD), cujo foco são ações para o enfrentamento da perda de biodiversidade; e a Convention to Combat Desertification, que, como o nome indica, aborda o problema da desertificação e dos danos causados ao solo – as três Conferências têm agenda própria. Por exemplo: a mudança climática é apenas um dos cinco fatores que impulsionam a perda por redução ao valor recuperável de ativos, e a natureza é apenas uma das soluções para o combate às mudanças climáticas. A COP15 teve como foco medidas de combate à perda por redução ao valor recuperável de ativos, sendo a mudança climática um dos impulsionadores de perda. Porém, existem outros fatores-chave, como as mudanças no uso da terra e do mar. 

David, a COP27 é uma reunião anual para discutir o clima, mas, em sua última edição, ela teve um dia dedicado ao tema da biodiversidade. Por isso, pergunto: como a natureza e o clima se conectam? Há algum fator-chave que precise ser resolvido?

David

Sim, claro. As mudanças climáticas, o aquecimento e a perda da biodiversidade estão claramente relacionados e reforçando mutuamente as crises. O aumento da temperatura global ao longo do último século alterou significativamente a composição, o funcionamento e a estrutura dos ecossistemas naturais, de muitas maneiras. Esses impactos são importantes porque os ecossistemas naturais prestam serviços que beneficiam direta ou indiretamente a humanidade e nosso bem-estar social coletivo. Ar limpo, água potável, segurança alimentar – que está atrelada intrinsecamente à polinização de culturas e à formação do solo –, bem como a diminuição da erosão e, claro, a conservação do habitat e da natureza, são elementos interligados. Basicamente, quando você pensa sobre a natureza, ela realmente fornece a base para a vida e nossas economias, nossos meios de subsistência e prosperidade. A ligação disso com os impactos trazidos pelos mudanças climáticas reside no reconhecimento de que alcançar o net zero até 2050 não será possível sem a natureza. Claro que investir em conservação dos ecossistemas não resolverá as mudanças climáticas por si só. Mas o cuidado com a natureza é essencial para a estratégia de permanecer dentro do limites de aquecimento máximo de 1,5°C ou o mais próximo possível desse patamar. Proteger, restaurar e gerenciar melhor os ecossistemas são cruciaus para prevenir as emissões de gases de efeito estufa e remover dióxido de carbono da atmosfera. A meu ver, há um forte argumento de que todos os caminhos net zero, neste momento, dependem da capacidade contínua da natureza em operar como uma pia de carbono. Sabemos que florestas, oceanos e lagos, pastagens e áreas degradadas absorvem cerca de 20% das emissões globais de gases de efeito estufa. Infelizmente, esses benefícios estão sendo prejudicados pelo desmatamento contínuo e pelo mau uso da terra. Além do papel crítico que a natureza desempenha no combate ao aquecimento climático, as soluções climáticas naturais e a infraestrutura verde contribuem para proteger as populações dos impactos físicos das mudanças climáticas, reduzindo riscos e nossa vulnerabilidade a desastres. Durante a COP27, uma ponte clara foi estabelecida entre a natureza e o clima. Foram feitos apelos para que os líderes integrassem melhor a natureza à resposta global à crise climática. Alguns dos desdobramentos relacionados à natureza na COP enfocaram colaborações público-privadas, bem como o desbloqueio e a expansão dos trilhões de dólares em financiamento de medidas de proteção à natureza. Todos sabemos que isso é necessário. Alguns dos desdobramentos notáveis que foram anunciados incluem o lançamento do Enhancing Nature-based Solutions for an Accelerated Climate Transformation (ENACT), que trará o aprimoramento das soluções baseadas na natureza para iniciativas de transformação climática, com foco no estímulo à ação coletiva em todo o clima e na desertificação. O lançamento de princípios de alta qualidade sobre carbono azul (carbono orgânico que é capturado e armazenado pelos ecossistemas oceânicos e costeiros do mundo, principalmente por algas, ervas marinhas, macroalgas, manguezais, pântanos salgados e outras plantas em zonas úmidas costeiras) fornece orientações sobre projetos e créditos de carbono azul, projetos-piloto e aplicações de tecnologias de mensuração, preparação e divulgação de informações e de verificação digitais, a exemplo da detecção remota por satélite para medir o carbono das florestas na África. Já o lançamento do impacto sobre a natureza financia um novo fundo público-privado para fins de conservação ambiental no Reino Unido, e tem por objetivo estimular o clima e as finanças espaciais.

David, quais são os principais desafios que as empresas enfrentam quando se trata de lidar com as crises climática e de natureza?

David

Neste momento, as crises climáticas e da natureza nos mostram que precisamos de todas as soluções de inovação, velocidade e expansão que nos permitam lidar com esses desafios. Vou detalhar dois deles: um é de âmbito financeiro/contábil; o outro precisa ser compartimentado entre o clima e a natureza. Com relação ao primeiro desses desafios, acho essencial que tenhamos soluções urgentes para estimular e catalisar fluxos financeiros que permitam ativar soluções comprovadas sobre clima e natureza e mobilizar ações em campo. Para isso, precisamos melhorar o que eu chamo de valorização do valor da natureza. Muitos dos benefícios proporcionados pela natureza e pelos serviços do ecossistema não se refletem hoje nos preços de mercado de bens e serviços; por isso, são frequentemente negligenciados ou desvalorizados quando se trata de fazer com que o negócio tenha uma estratégia “casada” com o investimento na natureza. Ademais, os custos dos danos ambientais causados pela atividade comercial são, em grande parte, externalizados e não refletidos nos balanços patrimoniais e no resultado. Por isso, são ignorados ou não estão plenamente integrados à tomada de decisões. Se começarmos a valorizar a natureza de forma precisa e integrar os custos e benefícios ambientais às estruturas contábeis, o incentivo econômico para investir em um capital natural pode ser feito.

Essa questão contábil está vindo à tona agora, por meio de iniciativas como a Taskforce on Nature-related Financial Disclosures (TNFD) e as finanças para a natureza, que seguem na esteira da preparação e da divulgação de informações sobre o clima, para promover a integração da natureza imaterial financeira com as exigências contábeis e de divulgação estabelecidas pelo mercado de valores mobiliários. Em relação ao segundo desafio, sobre o qual falarei de maneira compartimentada, devemos primeiramente pensar em clima e conservação da natureza como desafios separados e distintos. Isso porque são necessárias intervenções coordenadas para enfrentar ambos os desafios: ou seja, se não pensarmos adequadamente sobre cada um desses aspectos de forma integrada, algumas soluções podem ter algum impacto negativo para um desses plares. Um bom exemplo que eu frequentemente cito é o estabelecimento de uma floresta em biomas gramíneos. Isso poderia devastar a biodiversidade endêmica e desestabilizar aquele ecossistema. Por outro lado, não abordar o desmatamento pode inviabilizar o net zero até 2050. Assim, as soluções para os desafios relacionados ao clima devem beneficiar também a natureza.

Orlaith, você gostaria de complementar?

Orlaith

Um dos maiores desafios que vejo é o nível de entendimento e conscientização sobre a importância da natureza pelo setor privado. Acredito que a maioria dos CEOs seja capaz de explicar as emergências climáticas em poucas frases; eles estão cientes de que os GEEs estão aquecendo o planeta e causando graves danos. Mas, em relação à perda da natureza, ainda não chegamos a esse grau de conhecimento. Felizmente, há muita pesquisa voltada a essa questão. Para o público comercial e financeiro, eu sugeriria os relatórios dos bancos centrais holandeses e franceses, que abordam os riscos sistêmicos para o sistema financeiro e explicam como as perdas da natureza e a por redução do valor recuperável de ativos relaciona-se com o setor financeiro. Outro desafio que vejo é o seguinte: o mundo dispõe de recursos limitados; mas, definitivamente, aumentamos as demandas das empresas. Há muitas novas exigências relativas à preparação e à divulgação de informações. Então, minha pergunta é: as empresas precisarão contratar especialistas em ecologia para terem um conhecimento acerca dos produtos que compram? Quem será capaz de desenvolver um nível suficiente de entendimento para cumprir esses requisitos de preparação e divulgação de informações? Faça todas essas avaliações à luz da contabilidade sobre a qual o David falou. A natureza é extremamente complexa. Mas, se desejamos que milhares de empresas e instituições financeiras tomem providências, os métodos e as orientações que entregamos a elas terão que ser simples.

Carolin, você adicionaria algo?

Carolin

Em que pesem tanto as mudanças climáticas quanto as perdas trazidas por elas – e os riscos materiais cruciais para as empresas –, a mudança climática é hoje um risco financeiro mais presente para as empresas, porque a avaliação dos riscos das mudanças climáticas está mais madura e avançada. As empresas são desafiadas, principalmente, a aumentar a capacidade interna e a competência de conselhos, comitês e executivos de gerenciamento de riscos e de investimentos, para avaliar, de maneira precisa, os impactos materiais e as dependências dos negócios ou das carteiras financeiras em relação às mudanças do clima. Agora, a Força-Tarefa de Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD) e a Taskforce on Nature-related Financial Disclosures (TNFD) estão começando a ajudar nisso, fornecendo estruturas para a avaliação desses riscos. A mudança climática é especialmente complexa porque não há uma métrica única para mensurá-la. Ademais, não existem metas padronizadas em níveis global, nacional e organizacional nos mais diversos setores da indústria. Espera-se que o TNFD proporcione essa estrutura global para ajudar as organizações a avaliar, gerenciar e agir em relação aos riscos e às oportunidades que estão em evolução. A última versão beta 0.3 foi lançada há apenas algumas semanas para consulta de mercado e esse feedback será crucial para aprimorar e refinar a estrutura ao longo do próximo ano, garantindo que esta se torne uma ferramenta eficaz e amplamente adotada pelos participantes do mercado. Se examinarmos a crise econômica global em curso, as questões da cadeia de suprimentos, os desastres naturais e a pandemia, veremos com clareza nossa dependência da natureza.

Carolin, quais são as principais oportunidades?

Carolin

A ciência mostra que a natureza é agora uma alavanca central e nosso aliada para atingir metas net zero. Em 2000, um quinto das maiores empresas do mundo já assumia compromissos de atingir metas net zero. Porém, as divulgações sobre riscos da natureza apresentadas por essas empresas estão menos sujeitas a escrutínio regulatório do que suas divulgações relacionadas ao risco climático. Mas as expectativas dos investidores e dos órgãos reguladores estão também evoluindo rapidamente. Assim, não há caminho para 1,5°C sem abordar a perda de natureza e a degradação do solo e da água. Uma abordagem integrada do enfrentamento das mudanças climáticas e da natureza será realmente um ganho para as empresas atingirem suas metas net zero mais rapidamente. A segunda grande oportunidade que vejo impulsionando estratégias que respaldam e melhoram a natureza relaciona-se com as estratégias de governança e gerenciamento de riscos, que constroem a resiliência de um negócio, minimizando os riscos em todas as operações ou carteiras financeiras e assim impulsionam uma melhor subscrição de investimentos e decisões de alocação de capital. Isso permite que as organizações influenciem a criação de valor da empresa. Seja por meio da aplicação de metodologias de produção circular mais eficientes, seja pelo melhor engajamento com os parceiros da cadeia de suprimentos ou das práticas comerciais inteligentes, relacionadas a projetos de carbono de alta qualidade com coeficiente de benefícios financeiros, ou ainda, pelo acesso a soluções sustentáveis de financiamento para financiar essas estratégias. Então, o investimento em mudanças climáticas está se tornando não somente algo que os stakeholders solictam, mas uma questão relevante no cenário regulatório. As empresas que se engajarem agora na questão do aumento do valor recuperável de ativos estarão bem equipadas para lidar com as expectativas em constante evolução das partes interessadas. 

Orlaith, você adicionaria alguma coisa?

Orlaith

Para mim, uma das maiores oportunidades que vejo – e que está em debate na COP15 – é a interrupção dos subsídios financeiros para iniciativas que prejudicam a natureza. Ainda gastamos US$ 1,8 trilhão por ano em subsídios que permitem a perda da natureza. E isso está piorando a situação, acrescentando riscos para as empresas e instituições financeiras, porque distorce os preços e permite essa perda ambiental. “Estamos financiando nossa própria extinção” – esse é o tipo de slogan que foi colocado contra essa situação estranha, em que empregamos subsídios financeiros em atividades que prejudicam a natureza. Nas negociações da COP15, tem-se buscado reduzir, redirecionar ou eliminar esses subsídios nocivos. O progresso dessa agenda é bem lento quando o setor privado o conduz fora das negociações; por isso, há uma grande oportunidade para se discutir como tudo o que envolve a cadeia de valor afeta a natureza, seja direta ou indiretamente – e, assim, será possível tomar medidas rápidas para reduzir essas pressões sobre o meio ambiente. Na minha opinião, tudo isso se encaixa na hierarquia de mitigação. O primeiro passos é justamente  evitar quaisquer impactos negativos. A boa notícia é que “evitar” costuma ser a maneira mais fácil, barata e eficaz de reduzir impactos negativos. É mais fácil não ter um impacto negativo do que remediar depois do fato. Mas isso requer uma transformação fora dos negócios.

David, você já começa a ver as organizações investirem em meio ambiente ou nas estratégias de impacto sobre a natureza? Em caso positivo, o que essas empresas estão fazendo?

David

Estamos começando a ver os líderes empresariais tornando-se mais conscientes dos riscos da natureza e dos prejuízos que o desrespeito aos limites ecológicos pode acarretar. Eu acho que três elementos convergiram  para forçar essa conscientização. Um deles é a própria exigência da sociedade civil. Acho que vimos muito, nos últimos anos, em termos de coalizões institucionais de investidores, uma defesa da tomada de decisões que levem em consideração as questões do clima e da natureza. Também há maior cobrança em relação à transparência na divulgação de riscos e oportunidades relacionados à natureza. O terceiro elemento importante é que estamos vendo, cada vez mais, os órgãos reguladores e de auditoria, em várias jurisdições ao redor do mundo, impondo requisitos para a proteção e o gerenciamento da natureza. Além disso, vemos cada vez mais exemplos de lideranças empresariais comprometidas com o desenvolvimento de planos de adaptação climática e com a adoção de  metas ambientais baseadas na ciência, com soluções tecnológicas inovadoras e trabalho conjunto com outras empresas para atingir objetivos e resultados comuns. Dito isto, em termos de equilíbrio, a maioria das organizações está muito longe de entender sistematicamente e de maneira proativa como o negócio que ela realiza interage com a natureza. Acredito que haverá ainda mais coisas a respeito da integração da natureza à organização e ao aparato de tomada de decisões, de modo que a consideração dos impactos sobre o clima, a natureza e os serviços vitais do ecossistema seja realmente central para os planejamentos, as decisões de investimento e a própria operação do negócio. Em suas ações, a maior parte das empresas enfoca no que evitar. Assim, as atividades, as tecnologias escolhidas e outros fatores se interligarão com aspirações positivas em termos de impacto ambiental. Creio que, em pouco tempoessas tendências deverão se consolidar. Do meu ponto de vista, as empresas farão mais esforços e terão maior entendimento acerca dos impactos de seus modelos de negócio sobre os ecossistemas e o desenvolvimento de planos de transição climática também terão essa perspectiva. Finalmente, elas farão divulgações cada vez mais completas e transparentes sobre suas políticas de sustentabilidade. Farão isso para atender aos anseios de seus stakeholders internos e externos,  voluntariamente ou em em obediência às regras de compliance.

Carolin, você adicionaria algo ao que David acabou de dizer?

Carolin

Estamos vendo um interesse crescente das corporações e dos clientes de serviços financeiros pelas soluções que lhes permitam avaliar os riscos de perdaem toda a cadeia de valor ou na carteira de investimentos. Eles querem saber o quê, e como, incorporar aos riscos climáticos relacionados. Também buscam identificar as oportunidades. As empresas estão percebendo as oportunidades associadas à natureza e muitas já analisam seus ativos naturais de maneira mais séria, avaliando como beneficiar-se, por exemplo, de paisagens naturais, tais como florestas e recifes de coral. Áreas de cultivo, tais como fazenda, também estão no radar.

Obrigado, Carolin. Orlaith, o que as empresas devem levar em consideração quando avaliam o investimento na natureza e suas estratégias de impacto?

Orlaith

A mensuração e a base-line são críticas quando uma empresa está considerando um investimento por natureza ou tentando obter qualquer tipo de impacto positivo para os negócios. Provavelmente veremos muitas metas positivas para a natureza e compromissos de financiamento resultando da COP15. Mas, haver um impacto positivo para a natureza, é necessário ser muito claro sobre o escopo da avaliação ou das metas. De forma resumida, os impactos positivos precisam superar os impactos negativos. É disso que se trata. E isso significa definir o que está dentro e fora do cálculo. Ao incluir suas cadeias de valor, você está contemplando toda a sua carteira financeira ou enfocando uma espécie de região ou uma área? Ressalto que a base de referência comum que está sendo discutida refere-se a 2020. Então estamos falando de manter a reversão da perda por natureza, mensurada a partir de um base de referência de 2020. Até 2030, pretende-se que a a natureza esteja visivelmente no caminho da recuperação. Porém, quanto mais longe ficarmos do cenário de 2020, mais difícil será atingir aquilo que se almejaria como resultado. Então, há alguma conversa sobre o uso de base-lines mais recentes. “Fazer positivo” não é apenas uma frase de efeito. É uma decisão, um caminho que precisa do respaldo de dados e de bases de referência para que tenhamos informações mensuráveis.

Obrigado, Orlaith. Carolin, passo a palavra a você.

Carolin

De maneira semelhante ao que já fazem com relação ao clima, uma vez que diversas organizações já trabalham com ambições de zero líquido bem estabelecidas, chegou a hora de as empresas fazerem um tipo de backup de seus compromissos, para que tenham uma visão clara e abrangente de impactos, das dependências de sua organização (dependência de recursos naturais, por exemplo) e das ações que podem endereças, além de buscarem metas e métricas transparentes que lhes permitam atingir seus objetivos. E, devo acrescentar: as empresas precisam considerar que tipos de dados elas precisariam coletar, bem como as tecnologias e ferramentas analíticas que teriam de ser implementadas para medir, avaliar e relatar o progresso de suas estratégias de impacto na natureza e na biodiversidade, de forma confiável e econômica. Indiscutivelmente, a natureza é mais complexa, mas isso não deve nos desanimar. Embora seja difícil que um dia tenhamos apenas uma métrica universal para a biodiversidade, o TNFD acaba de nos trazer uma abordagem para o desenvolvimento de métricas e metas.

 

Finalmente, o que vocês esperam ouvir, na COP15, acerca de como as empresas estão realinhando ou planejando realinhar suas estratégias de negócio para respaldar melhor as necessidades climáticas e da natureza? Orlaith, passo a palavra primeiramente para você.

Orlaith

Sabemos que mais empresas e instituições financeiras estão aderindo a essas agendas e isso é realmente positivo, porque mostra a disposição do setor privado em apoiar um acordo forte e ambicioso para a próxima estrutura global de contratação de bens e serviços. Em temos de políticas, espero ouvir um senso de urgência necessário, poque estamos nessa espera há pelo menos dois anos. Certamente há muito trabalho a ser feito com relação a dados sobre definições e sobre a ciência, mas acredito que possamos, desde já, com as informações que temos, começar a trilhar caminhos que nos permitam viver em maior harmonia com a natureza.

Obrigado, Orlaith. Carolin, você adicionaria alguma coisa?

Carolin

Acredito que a COP15 será o início de conversas e ações sobre a continuidade das atividades. Portanto, o que espero ver não é somente uma meta global ambiciosa para a natureza, mas um grande engajamento de todo o setor empresarial e financeiro na própria conferência. Assim, as empresas podem questionar o que fazer para integrar os riscos e as oportunidades ao gerenciamento de riscos corporativos, além de dar exemplos concretos do que foi feito, de como algumas medidas foram implementadas, quais as lições aprendidas e como expandir o trabalho em todos os setores, de modo a assegurar que as mudanças transformadoras necessárias para atingir as novas metas globais sejam abordadas e compreendidas no decorrer da Conferência.