Monitorar os riscos ESG na cadeia de terceiros tem se tornado uma prioridade estratégica para as empresas que buscam a sustentabilidade e a transparência de suas atividades e, assim, garantir continuidade dos negócios, reputação positiva da marca e tantos outros benefícios.

Leia, a seguir, uma entrevista exclusiva com Kin Honda, sócio-diretor de ESG Advisory da KPMG no Brasil, a respeito desse tema. O líder explica a importância de se avaliar os riscos relativos aos pilares ambientais, sociais e de governança e como fazer isso com segurança e eficácia. 

Kin, você tem 16 anos de experiência atendendo clientes de vários setores sobre temas da hoje chamada agenda ESG. Atualmente, observamos que grande parte das discussões envolve o ESG na cadeia de fornecedores. Por que esse assunto é uma tendência?

A crescente importância das discussões sobre ESG na gestão de terceiros compreende diferentes razões. Primeiro, as empresas estão reconhecendo cada vez mais a necessidade de gerenciar os riscos ambientais e sociais em suas operações, bem como garantir uma governança sólida. Isso ocorre porque os stakeholders – principalmente investidores, consumidores e órgãos reguladores – estão exigindo um maior compromisso com a sustentabilidade.

Além disso, as organizações estão percebendo que a sustentabilidade e a gestão responsável em toda a cadeia de terceiros possibilitam benefícios significativos. Ao adotar práticas sustentáveis, as organizações podem, sobretudo:

- Identificar e gerenciar melhor potenciais ameaças. Isso inclui riscos relacionados à reputação, às mudanças climáticas, às regulamentações ambientais, aos litígios trabalhistas, entre outros. Ao avaliar e selecionar fornecedores que adotam práticas sustentáveis, as empresas podem reduzir sua exposição aos riscos e assegurar a continuidade dos negócios.

- Aumentar a resiliência do sistema de fornecimento, tornando-o mais robusto e adaptável a mudanças. Isso inclui diversificação da base de fornecedores, identificação de alternativas de fornecimento sustentáveis e avaliação da capacidade de resposta dos terceiros a eventos adversos.

- Grantir a transparência e a prestação de contas em relação aos aspectos ambientais e sociais. Isso inclui a divulgação de informações sobre emissões de carbono, condições de trabalho, cadeias de suprimentos livres de trabalho escravo etc. A transparência aumenta a confiança de consumidores, investidores e outros stakeholders, fortalecendo a reputação da marca.

Outro fator importante é a pressão regulatória e legislativa. Muitos governos estão implementando políticas e regulamentações rigorosas relativas à sustentabilidade, obrigando as empresas a adotarem práticas mais responsáveis em seus terceiros. Hoje, grande parte das empresas demonstram um compromisso significativo em ESG, porém essa gestão está muito voltada para “dentro de casa”. A gestão ESG de terceiros busca trazer o compromisso e o desempenho ESG ao mesmo patamar que a empresa contratante, adicionando a dependência de seus terceiros para atingir metas e compromissos públicos como o “net zero” relacionado ao carbono, já que, por este compromisso, é necessário quantificar a emissão dos terceiros.

Soma-se a esse cenário os casos divulgados na imprensa nos últimos anos, os quais evidenciaram uma falta de controles de terceiros especificamente direcionada aos aspectos ambientais, sociais e de governança.

A tendência de discutir o ESG na cadeia de fornecedores também reflete a necessidade de uma abordagem abrangente, tecnológica e sustentável para os negócios, levando em consideração não apenas os aspectos financeiros, mas também os riscos e impactos ambientais e sociais associados a esse elo da cadeia de valor.

A KPMG dispõe de uma ferramenta para ajudar na gestão de fornecedores e terceiros, intitulada ESG KPMG Watch. O que essa solução ajuda a resolver?

Essa ferramenta busca auxiliar as empresas, principalmente as áreas de Compras, Sustentabilidade e Compliance, a realizarem a gestão de riscos na cadeia de terceiros, suportando esses profissionais em todas as etapas da cadeia, sendo elas:

- Etapa de homologação: auxilia a traçar o perfil de risco de seus terceiros e define um rating ESG para cada um. Considera-se a criticidade inerente da atividade empresarial (como a manipulação de produtos químicos, trabalhos com altura ou eletricidade, por exemplo); e a governança ESG adotada (programas, políticas, controles, desempenho e transparência).

- Etapa de seleção: traz a variável ESG na tomada de decisão do melhor fornecedor a ser contratado, somando sua estrutura e seu perfil de risco ESG com a questão financeira. A escolha de um terceiro com base em uma proposta “mais barata” pode sair “caro” para o contratante, diante do perfil de risco ESG que ele apresenta e, consequentemente, há uma maior probabilidade de não conformidades serem identificadas.

- Etapa de monitoramento: com a ferramenta, temos um diagnóstico holístico do terceiro, o que possibilita identificar pontos de melhorias em sua estrutura e performance ESG, buscando atender o mesmo patamar da empresa contratante. Adicionalmente, é possível saber quais terceiros precisam que visitas e auditorias in loco sejam priorizadas. A ideia é não “engessar” o processo, e sim trazer insights para uma gestão eficaz e com menor risco.

Quais são os setores mais impactados por essas novas expectativas em relação aos terceiros? Quais tendências você observa nesse campo?

Vários setores são impactados pelos debates ESG em terceiros, mas alguns se destacam por conta da natureza de suas operações, considerando aspectos como maior terceirização de atividades e impactos ambientais e sociais associados. Alguns dos principais segmentos são:

- Setor de Energia: é fortemente impactado pelas discussões ESG em razão da sua relação com as mudanças climáticas, as emissões de gases de efeito estufa e o uso de recursos naturais. As empresas que atuam nesse segmento estão sendo pressionadas a adotar práticas sustentáveis, investir em energias renováveis e reduzir sua pegada de carbono.

- Setor de Alimentos e Agricultura: a produção de alimentos e a atividade de agricultura envolvem aspectos de segurança alimentar, uso de pesticidas, desmatamento ilegal, uso excessivo de água e condições de trabalho inadequadas. A demanda por práticas agrícolas sustentáveis e cadeias de suprimentos que atuem com mais transparência – soma-se a isso as legislações internacionais recentes – está impulsionando mudanças no setor.

- Setor de Vestuário e Têxteis: a indústria da moda tem sido criticada por seus impactos ambientais e sociais, tais como poluição da água e uso intensivo de recursos, além dos últimos acontecimentos envolvendo escravidão e condições precárias de trabalho. Os consumidores estão exigindo maior transparência e responsabilidade nesse setor, algo que fomenta a adoção de práticas éticas e sustentáveis em toda a cadeia de fornecedores.

- Setor Automotivo: a indústria automotiva enfrenta desafios que compreendem eficiência de combustíveis, emissões de gases de efeito estufa, reciclagem de materiais e impactos na mobilidade urbana. As empresas desse setor estão sendo incentivadas a investir em veículos elétricos, reduzir sua pegada de carbono e a adotar práticas de produção sustentáveis. Vale acrescentar que o setor também tem uma complexa rede de componentes e fornecedores.

- Setor Financeiro: embora não seja um segmento de produção direta, o setor financeiro desempenha um papel fundamental na promoção das práticas ESG na cadeia de fornecedores. Investidores e instituições financeiras estão cada dia mais integrando critérios ESG em suas decisões de investimento, favorecendo empresas com práticas sustentáveis e responsáveis em seus terceiros.

Esses são exemplos dos setores impactados pelas discussões ESG em terceiros. No entanto, é importante ressaltar que a conscientização e a demanda por práticas sustentáveis estão se expandindo para além desses segmentos, abrangendo uma ampla gama de indústrias.

  

Kin Honda

USP | INSPER

Kin Honda é sócio-diretor de ESG Advisory da KPMG no Brasil e atua na Organização desde setembro de 2021. O executivo tem 16 anos de experiência em gestão de sustentabilidade com foco em mudanças climáticas, transformação de negócios e gestão ESG de terceiros.

Entre outras iniciativas, o líder está à frente de relevantes projetos ligados à reporte de sustentabilidade e à adequação das empresas aos Índices de Sustentabilidade das bolsas de valores (Dow Jones e B3). Kin também coordena o relatório de Sustentabilidade da KPMG no Brasil e demais projetos voltados a recursos hídricos do Pacto Global.

  


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